O Dia dos Mortos no México

O México, país da América do Norte é banhado pelo Oceano Pacífico a oeste e Golfo do México a leste pelo Oceano Atlântico.

Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano a partir de sua base em Tenochtitlán e administrou-o como o Vice-Reino da Nova Espanha. Este território viria a ser o México com o reconhecimento da independência da colônia em 1821.

No México, o Dia dos Mortos é uma celebração de origem indígena, que honra os defuntos no dia 2 de novembro. Começa no dia 31 de outubro e coincide com as tradições católicas do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos. Além do México, também é celebrada em outros países da América Central e em algumas regiões dos Estados Unidos, onde a população mexicana é grande. A UNESCO declarou-a como Patrimônio Imaterial da Humanidade.

1 - Fig 04 PARADA DO DIA DOS MORTOS

As origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis. Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto. Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.

2 - Fig 01

3 - Fig 02O festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês completo. As festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl, conhecida como a “Dama da Morte”, atualmente relacionada a La Catrina, personagem de José Guadalupe Posada – e esposa de Mictlantecuhtli, senhor do reino dos mortos. As festividades eram dedicadas às crianças e aos parentes falecidos.

É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm visitar 4 - Fig 03seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias 1 e 2 de novembro, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e amigos. Por isso, as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram. As pessoas fazem máscaras de caveira, vestem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiam de morte.

As Crenças dos Índios Chamulas

No Dia dos Mortos as pessoas vão aos cemitérios, sempre de dia. As almas dos mortos, para os índios Chamulas na cidade de Romerillo, são fracas, não tem mais a água da vida ou a “chica” para esquentar os corpos. Não tem mais corpo nem sangue. Transformam-se em pequenos anões, vivendo no Olontic, no Oeste, no Reino dos Mortos. Elas são fracas, incapazes de carregar cargas de milho ou madeira, incapazes de trabalhar como quando tinham seus corpos.

Os índios Chamulas nunca viajam à noite, pois tem medo dos espíritos do mundo inferior ou dos demônios que erram na obscuridade e tentam roubar a alma dos vivos, sem que o Deus Sol possa intervir.

A maioria vai descalça no cemitério, com as mulheres vestindo preto e os homens vestindo roupa branca, trazendo as crianças de casa. Todos vem carregados de oferendas: flores, ramagens, comida, bebida, velas. Todos os túmulos são iguais, não tem lápides nem são cobertos com cimento, mas com uma particularidade: tem sobre a terra a porta da casa do falecido. O resto é o caos: vegetação, sandálias, cruzes quebradas.

6 - Fig 05 cemiterio-chamula

Aparentemente as cruzes eram usadas na região mesmo antes da chegada dos espanhóis e do cristianismo.
Seriam, portanto, cruzes maias, não relacionadas à cruz de Cristo, mas dotadas de todo um significado mitológico envolvendo a origem da humanidade e do universo.

As portas são um traço de união entre os vivos e os mortos, são reconhecidas e assim que a família chega elas são abertas. As mulheres se ajoelham e limpam o local, arrancam as ervas daninhas, colocam as flores amarelas (da morte, os “tzempaxochilt”), cujo perfume vai permitir que as almas reconheçam o odor de sua terra natal. Em seguida as oferendas são colocadas: “tamalas”, uma massa de milho e feijão, laranjas abertas em gomos, e principalmente bebidas alcoólicas para que os mortos se aqueçam, pois eles tem frio e fome.

Quando um ser morre pela primeira vez, cuida-se de colocar em seus bolsos um pouco de dinheiro, chocolate, tortilhas, um bolo nutritivo e três penas de peru enfiadas numa agulha para que ele costure suas roupas. O trajeto da casa ao cemitério tem sempre a cabeça do morto na direção do oeste, e o corpo é banhado constantemente com água com limão.

Outros cuidados com o morto é que seja enterrado de dia, e jamais com sandálias de couro. Os índios acreditam que no além, elas se transformam em touros capazes de darem cornadas nas almas.

No Dia dos Mortos, quando elas retornam, estão sós, com fome e frio. As oferendas são retiradas 24 horas após com estas palavras: “Você já comeu bastante. Você sorvei o melhor dos alimentos, bebeu o aroma do seu aroma, a essência de sua essência. Eles não tem mais gosto. É a nossa vez…”

Durante todo o dia as mulheres rezam e conversam com os mortos, com cantos, lamentações, choros, por eles e pelos vivos. Esta cerimônia é ímpar em todo o México, sendo realizada somente na região de Romelliro pelos indios Chamulas.

O Dia dos Mortos do México no Cinema

Cenários de cemitérios, cruzes, caveiras e festas do tipo são um ambiente explorado pela indústria cinematográfica com muito sucesso. A Festa do Dia dos Mortos do México foi utilizada em dois filmes: Assassinos (1995), com Sylvester Stallone, Antonio Banderas, Julianne Moore (fig.06), e 007 CONTRA SPECTRE (2015),com Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux.

Poster do Filme “Os Assassinos” com Sylvester Stalone
Cena do Filme 007 Contra Spectre

O Dia dos Mortos nas Artes

O Dia dos Mortos do México foi retratado pelo pintor, também mexicano, Diego Rivera com a pintura “O Dia da Morte” em 1924, no Ministério da Educação, na Cidade do México.

9 - Fig 08 - 204_001 (1)

Patrimônio da Humanidade

Em cerimônia realizada em Paris, França em 7 de novembro de 2003, a UNESCO distinguiu a festividade indígena do Dia dos Mortos como Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade. A distinção por considerar a UNESCO que esta festividade é:

“… uma das representações mais relevantes do patrimônio vivo do México e do mundo, e como uma das expressões culturais mais antigas e de maior força entre os grupos indígenas do país”.

O documento ainda destaca:

  • “Esse encontro anual entre as pessoas que celebram e seus antepassados, desempenha uma função social que recorda o lugar do indivíduo no seio do grupo e contribui na afirmação da identidade…”
  • “…embora a tradição não esteja formalmente ameaçada, sua dimensão estética e cultural deve ser preservada do crescente número de expressões não indígenas e de caráter comercial que tendem a afetar seu conteúdo imaterial”.

Bibliografia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9xico
Revista Planeta nº 2, Editora Três
http://www.viajenaimagem.com/2013/03/san-cristobal-de-las-casas.html

Publicado no Boletim da SPP nº 288 de abril de 2017