Boletim da SPP nº 213 – Abril de 2012
Conheci a Sociedade Philatélica Paulista, a nossa SPP, em 1990 a convite de um amigo de velhos plantões, o Dr. Luis Langer, dentista e que foi o meu primeiro grande orientador na arte de colecionar selos. Até então eu era um ajuntador de selos, que guardava tudo o que vinha pela frente achando que eu era o máximo!
Acabei indo à Sociedade num sábado à tarde do mês de dezembro, a convite e insistência desse velho amigo, num tal de Leilão de Doações, que na época era anual e bastante concorrido com filatelistas realmente mestres na arte do colecionismo. O amigo Langer era realmente um expert em selos ordinários, colecionava variedades além de tudo o que se relacionasse a Getúlio Vargas, do qual era fã incondicional. Não tinha apenas selos e peças filatélicas com o ex-ditador, mas colecionava inclusive objetos, assinaturas, e outras coisas incríveis sobre ele.
Eu realmente estava meio perdido, com uma porção de gente que, embora simpática e amigável, ainda não conhecia. No fundo, queria comprar tudo que visse pela frente, e tudo começava com apenas um real! Ainda assim, eu ajuntador de selos nem saberia o que fazer com o que pudesse comprar. Por mais que me apresentasse as pessoas (que eu sequer conseguia gravar os nomes), ainda assim eu me sentia um estranho no meio de pessoas que estudavam a filatelia aos seus limites.
Confesso que fiquei até envergonhado em responder a perguntas tipo: o que você coleciona? Como começou a colecionar? Na primeira tentativa de dizer que ganhei parte de um álbum de um tio-avô que eu não conheci descobri que iria cair num lugar comum que todo mundo já vivenciou e não quer admitir. Hoje, cada vez mais eu tenho essa certeza: todo mundo ganhou alguns selos ou herdou uma coleção de um tio ou avô que mudou de mundo e ninguém saberia o que fazer com aquele caderno. Lógico que uma tia iria dizer: Dá de presente pro Robertinho, coitadinho, ele é tão diferente dos outros sobrinhos…
Mas voltemos ao dito Leilão de Doações. Tinha um cearense chamado Xavier que fazia a maior balbúrdia com o martelo do leilão, criava estórias em cima de uma peça filatélica e forçava a venda a um preço alto. Cada lote tinha uma história, cada carimbo, cada destino. O Luiz Langer não tinha medo de comprar, quando queria alguma coisa parecia aquela criança no supermercado que se agarra a alguma coisa que quer e só sai de lá agarrado com o pacote.
Foi aí que apareceu uma peça não filatélica da época: uma gravura com uma mulher tipo símbolo da liberdade, carregando uma bandeira do Brasil, com a imagem do rosto do Getúlio atrás, e para atiçar mais ainda o colega Luis Langer, tinha uma assinatura do próprio Getúlio! Aquilo era o máximo! Os olhos do Luiz brilharam, ele parou a conversa e entrou de sola no leilão.
Lá vai o ele disputando a peça palmo a palmo, cruzeiro a cruzeiro a gravura, com outros colegas que apenas entraram para infernizar a vida dele. Finalmente o leiloeiro, o amigo Xavier ao ver que a brincadeira já tinha passado dos limites, numa velocidade incrível bateu o martelo no 1-2-3 – É do Langer!!
Ele, de posse da peça na mão, examinava com cuidado de expertizador a assinatura do Getúlio e se orgulhava de ter mais uma peça para sua coleção getulista. E continuou comprando, colocando suas pacotarias para procurar variedades ao seu lado.
De repente, para surpresa de todos, e muito mais do amigo a mesma peça voltou para o leilão. Os amigos da onça, digo, filatelistas, delicadamente devolveram a peça como “nova doação” ao leilão, e o amigo Xavier não pensou duas vezes:
“Ó, Langer, tem aí outra do Getúlio!”
O Luiz Langer virou um bicho, mas não teve outra saída, entrou na briga e comprou de novo a mesma peça, ganhando de todos os outros da mesma maneira, com o Xavier batendo o martelo rapidamente, com outro sorriso no rosto antes que o valor dela ficasse exorbitante.
Hoje o amigo Luiz está muito próximo dos 80 anos, vendeu sua coleção, mas nada impede que conversemos sempre que possível longa e deliciosamente pelo telefone. Não dá para esquecer as lições de filatelia e amizade que ele, graciosamente e de coração me ensinou.
Amigão Langer, muito obrigado mesmo!
Roberto Antonio Aniche
Villa-Lobos aprende com amigos boêmios a tocar violão, para desespero da mãe e forma com outros músicos o conjunto de seresteiros que vai homenagear, em 1903, Santos Dumont, recém chegado de Paris após contornar a Torre Eiffel com seu dirigível. Torna-se um dos músicos que mais contribuíram para o desenvolvimento do “choro” no Brasil, tocando com o grupo peças de Ernesto Nazareth Joaquim Calado, Catulo da Paixão Cearense, entre outros.
Matricula-se no Instituto Nacional de Música, mas não aguenta a rigidez da escola. Procura o Maestro Francisco Braga, mas também não consegue se adaptar. Ganha do Dr. Leão Veloso um livro com o curso de composição do europeu Vincent D´Indy e está feito seu aprendizado. Toca, para ganhar a vida, no Teatro Recreio um repertório com óperas, operetas e zarzuelas; também no Cinema Odeon e em bares e cabarés o repertório dos chorões e dos seresteiros.
Casa-se no Rio de Janeiro com Lucília, que passa a ser a intérprete de suas obras em audições em casa para amigos como os maestros Francisco Braga e Henrique Oswald. Em 1915 faz sua primeira aparição em público no Teatro Eugênia com obras suas e do compositor europeu Popper. Após, dá o seu primeiro concerto no Teatro São Pedro sob a regência de Francisco Braga.
Em 1919 realiza um concerto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, homenageando Epitácio Pessoa que regressava da Conferência de Haia.
como a Prole do Bebê e outras. Foi o compositor que mais divulgou a música brasileira na Europa e América ao lado de Carlos Gomes. Realizou no Brasil, após 1930, uma turnê por sessenta e duas cidades brasileiras, bem como a Cruzada do Canto Orfeônico no Rio de Janeiro, além de ser o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Música.

