Frei Orlando – Patrono do Exército Brasileiro

1 - Frei OrlandoAntônio Álvares da Silva, Frei Orlando nasceu em Morada Nova de Minas a 13 de fevereiro de 1913 e faleceu, em Bombiana, Itália, 20 de fevereiro de 1945).

Órfão com apenas um ano de idade foi criado por família católica praticante. Depois da primeira comunhão, em 1920, passou a frequentar assiduamente o catecismo. Nele revelou-se nitidamente o pendor para a vida clerical, o apreço pelas coisas da Igreja e a compaixão pelos humildes. Foi assim que, tendo iniciado seus estudos em Divinópolis (MG), seguiu para a Holanda, de onde retornou para sua ordenação como sacerdote, em 24 de outubro de 1937. Não era mais Antônio, mas, sim, o Frei Orlando.

Após a ordenação, com 24 anos, passa a lecionar no Colégio de Santo Antonio, em São João Del Rey, criando, próximo a este colégio, a “Sopa dos Pobres” em outubro de 1942, com a ajuda de paroquianos, alimentando operários, moradores de rua e outros necessitados, inclusive do 11º Regimento de Infantaria

A Segunda Guerra Mundial

A 31 de Agosto de 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha, à Itália e ao Japão.
Após o ataque japonês contra Pearl Harbour e a entrada dos Estados Unidos na guerra, o conflito mundial tinha-se aproximado das costas do continente americano, iniciando os ataques alemães a navios nas costas da América.

2 - Navio Itagiba
Navio Itagiba

Os navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba, Arará foram afundados por submarinos alemães, provocando 606 mortos em apenas 6 dias! De 22 de março de 1941 a 19 de julho de 1944 foram atacados, nas diversas partes do globo, um total de 35 navios brasileiros, totalizando 1081 mortos e 1686 sobreviventes.

A argumentação alemã para atacar navios brasileiros a 15 de Fevereiro de 1942 aponta para razões completamente infundadas, afirmando que os navios brasileiros navegavam sem luzes, não identificando o país de origem e dando a entender que eram navios mercantes de países que lutavam contra a Alemanha.

A pressão norte-americana sobre o governo brasileiro existiu de fato, mas a análise de Getúlio Vargas considerando que o Brasil teria muito mais vantagens em se aproximar dos aliados ocidentais que das potência do Eixo, também levou ao esfriamento das relações entre Brasil e Alemanha durante os primeiros meses de 1942.

Declaração de Beligerância

Selo GetulioEm 22 de Agosto de 1942, Getúlio Vargas, assina um decreto presidencial em que o Brasil reconhece a existência de um estado de beligerância. A declaração, foi transmitida pela rádio brasileira às 20:00 desse mesmo dia, implicando que o Brasil deixava de ser um país neutro, e que embora decidisse não atacar a Alemanha, estava livre para apoiar os aliados.

No entanto, a pressão das ruas foi maior que o que o governo de Getúlio Vargas esperava e a declaração do estado de guerra seguiu-se dias depois.

Estado de Guerra

Nove dias depois da declaração de beligerância, o Brasil declara, a 31 de Agosto de 1942, a existência de um estado de guerra com as potências do eixo, iniciando preparativos para enviar pessoal, material e apoio para o continente europeu.

FEB – Soldados para a Guerra

4 - Selo Cobra fumandoA Força Expedicionária Brasileira, FEB, foi a força militar brasileira de 25.334 homens responsável pela participação brasileira ao lado dos Aliados na Campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Constituída principalmente por uma divisão de infantaria, historicamente é considerada o conjunto de todas as forças militares brasileiras que participaram daquela campanha. Adotou como lema “A cobra está fumando”, em alusão ao que se dizia à época que seria “Mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa”.

O 11º Regimento de Infantaria começou a receber e preparar soldados (“pracinhas”) para embarque para a Itália para lutar ao lado dos norte americanos. Frei Orlando viu o 11º RI partir e não se conformou em permanecer impassivelmente na cidade. Assim, quando o então comandante do regimento, coronel Delmiro Pereira de Andrade, solicitou a indicação de um religioso para capelão militar ao Comissariado dos Franciscanos em São João del-Rei, Frei Orlando viu a oportunidade de concretizar um de seus mais acalentados sonhos: o de ser missionário sem fronteiras, ir a qualquer parte do mundo para multiplicar os discípulos de Deus. Integrou-se, então, à FEB, e seguiu para a Europa. Seu primeiro trabalho foi celebrar uma missa na catedral de Pisa para os pracinhas brasileiros, nomeado Capelão do Regimento Tiradentes.

Atuação na Praça de Guerra

Frei Orlando esteve ao lado dos soldados brasileiros, rezando, orientando, trazendo esperança a todos antes de irem ao front, confortando-os na volta, ajudando os feridos, confortando as baixas. Mas também, dono de um coração Cristão, ajudada famílias italianas em necessidade, tais como fome e doenças, mas também espiritualmente. Avançava com os soldados na frente de batalha, mesmo considerando-se o perigo dos bombardeios inimigos.

A Morte de Frei Orlando

Na sangrenta batalha de Monte Castelo, Frei Orlando vendo o que se passava, e preso de profunda emoção foi para a frente de batalha onde os nossos soldados misturavam seu sangue com a neve em degelo. Às vésperas da tomada de Monte Castello, durante uma visita à linha de frente, o jipe que transportava Frei Orlando atolou na lama. Um partisan (membro da resistência italiana) tentou desencalhar o jipe, batendo com o cabo do rifle em uma pedra. O rifle disparou, atingindo Frei Orlando que morreu vitimado por esse tiro acidental. Contava com 32 anos de idade naquele fatídico 20 de fevereiro de 1945 em Bombioana, Itália.

5

A morte de Frei Orlando causou tristeza e revolta em toda a tropa brasileira. Os ataques a Monte Castelo tornaram-se mais cruciais, caindo a fortaleza em no dia seguinte, após tres meses de atuação da FEB.

Patronato de Frei Orlando

Pelo decreto nº 20680 de 28 de fevereiro de 1946, o Presidente da República Eurico Gaspar Dutra instituiu Frei Orlando como Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército Brasileiro.

7 - PlacaRecebeu ainda, pós-mortem, as condecorações com a Medalha Sangue do Brasil e a Medalha de Campanha, atestando a coragem e bravura com que desempenhou seu trabalho na FEB, além de uma placa em homenagem ao Frei Orlando, em Bombiana, Italia.

Frei Orlando foi venerado por todos que o conheceram, pela bondade, alegria e pela solicitude a todos os necessitados, tanto no Brasil, em São João Del Rey, como por todos os soldados do seu Regimento, além da população italiana assistida por ele durante a guerra.

6 - Cartao Postal

BIBLIOGRAFIA
Frei Orlando, o Capelão que não voltou, Tenente Gil Palhares, 2ª edição, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, RJ
www.wikipedia.org
http://segundaguerra.net/feb-a-morte-de-frei-orlando/
http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=136
www.infoescola.com

Publicado no Boletim Filacap 183 ano 40 novembro/2014

O Dia dos Mortos no México

O México, país da América do Norte é banhado pelo Oceano Pacífico a oeste e Golfo do México a leste pelo Oceano Atlântico.

Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano a partir de sua base em Tenochtitlán e administrou-o como o Vice-Reino da Nova Espanha. Este território viria a ser o México com o reconhecimento da independência da colônia em 1821.

No México, o Dia dos Mortos é uma celebração de origem indígena, que honra os defuntos no dia 2 de novembro. Começa no dia 31 de outubro e coincide com as tradições católicas do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos. Além do México, também é celebrada em outros países da América Central e em algumas regiões dos Estados Unidos, onde a população mexicana é grande. A UNESCO declarou-a como Patrimônio Imaterial da Humanidade.

1 - Fig 04 PARADA DO DIA DOS MORTOS

As origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis. Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto. Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.

2 - Fig 01

3 - Fig 02O festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês completo. As festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl, conhecida como a “Dama da Morte”, atualmente relacionada a La Catrina, personagem de José Guadalupe Posada – e esposa de Mictlantecuhtli, senhor do reino dos mortos. As festividades eram dedicadas às crianças e aos parentes falecidos.

É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm visitar 4 - Fig 03seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias 1 e 2 de novembro, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e amigos. Por isso, as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram. As pessoas fazem máscaras de caveira, vestem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiam de morte.

As Crenças dos Índios Chamulas

No Dia dos Mortos as pessoas vão aos cemitérios, sempre de dia. As almas dos mortos, para os índios Chamulas na cidade de Romerillo, são fracas, não tem mais a água da vida ou a “chica” para esquentar os corpos. Não tem mais corpo nem sangue. Transformam-se em pequenos anões, vivendo no Olontic, no Oeste, no Reino dos Mortos. Elas são fracas, incapazes de carregar cargas de milho ou madeira, incapazes de trabalhar como quando tinham seus corpos.

Os índios Chamulas nunca viajam à noite, pois tem medo dos espíritos do mundo inferior ou dos demônios que erram na obscuridade e tentam roubar a alma dos vivos, sem que o Deus Sol possa intervir.

A maioria vai descalça no cemitério, com as mulheres vestindo preto e os homens vestindo roupa branca, trazendo as crianças de casa. Todos vem carregados de oferendas: flores, ramagens, comida, bebida, velas. Todos os túmulos são iguais, não tem lápides nem são cobertos com cimento, mas com uma particularidade: tem sobre a terra a porta da casa do falecido. O resto é o caos: vegetação, sandálias, cruzes quebradas.

6 - Fig 05 cemiterio-chamula

Aparentemente as cruzes eram usadas na região mesmo antes da chegada dos espanhóis e do cristianismo.
Seriam, portanto, cruzes maias, não relacionadas à cruz de Cristo, mas dotadas de todo um significado mitológico envolvendo a origem da humanidade e do universo.

As portas são um traço de união entre os vivos e os mortos, são reconhecidas e assim que a família chega elas são abertas. As mulheres se ajoelham e limpam o local, arrancam as ervas daninhas, colocam as flores amarelas (da morte, os “tzempaxochilt”), cujo perfume vai permitir que as almas reconheçam o odor de sua terra natal. Em seguida as oferendas são colocadas: “tamalas”, uma massa de milho e feijão, laranjas abertas em gomos, e principalmente bebidas alcoólicas para que os mortos se aqueçam, pois eles tem frio e fome.

Quando um ser morre pela primeira vez, cuida-se de colocar em seus bolsos um pouco de dinheiro, chocolate, tortilhas, um bolo nutritivo e três penas de peru enfiadas numa agulha para que ele costure suas roupas. O trajeto da casa ao cemitério tem sempre a cabeça do morto na direção do oeste, e o corpo é banhado constantemente com água com limão.

Outros cuidados com o morto é que seja enterrado de dia, e jamais com sandálias de couro. Os índios acreditam que no além, elas se transformam em touros capazes de darem cornadas nas almas.

No Dia dos Mortos, quando elas retornam, estão sós, com fome e frio. As oferendas são retiradas 24 horas após com estas palavras: “Você já comeu bastante. Você sorvei o melhor dos alimentos, bebeu o aroma do seu aroma, a essência de sua essência. Eles não tem mais gosto. É a nossa vez…”

Durante todo o dia as mulheres rezam e conversam com os mortos, com cantos, lamentações, choros, por eles e pelos vivos. Esta cerimônia é ímpar em todo o México, sendo realizada somente na região de Romelliro pelos indios Chamulas.

O Dia dos Mortos do México no Cinema

Cenários de cemitérios, cruzes, caveiras e festas do tipo são um ambiente explorado pela indústria cinematográfica com muito sucesso. A Festa do Dia dos Mortos do México foi utilizada em dois filmes: Assassinos (1995), com Sylvester Stallone, Antonio Banderas, Julianne Moore (fig.06), e 007 CONTRA SPECTRE (2015),com Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux.

Poster do Filme “Os Assassinos” com Sylvester Stalone
Cena do Filme 007 Contra Spectre

O Dia dos Mortos nas Artes

O Dia dos Mortos do México foi retratado pelo pintor, também mexicano, Diego Rivera com a pintura “O Dia da Morte” em 1924, no Ministério da Educação, na Cidade do México.

9 - Fig 08 - 204_001 (1)

Patrimônio da Humanidade

Em cerimônia realizada em Paris, França em 7 de novembro de 2003, a UNESCO distinguiu a festividade indígena do Dia dos Mortos como Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade. A distinção por considerar a UNESCO que esta festividade é:

“… uma das representações mais relevantes do patrimônio vivo do México e do mundo, e como uma das expressões culturais mais antigas e de maior força entre os grupos indígenas do país”.

O documento ainda destaca:

  • “Esse encontro anual entre as pessoas que celebram e seus antepassados, desempenha uma função social que recorda o lugar do indivíduo no seio do grupo e contribui na afirmação da identidade…”
  • “…embora a tradição não esteja formalmente ameaçada, sua dimensão estética e cultural deve ser preservada do crescente número de expressões não indígenas e de caráter comercial que tendem a afetar seu conteúdo imaterial”.

Bibliografia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9xico
Revista Planeta nº 2, Editora Três
http://www.viajenaimagem.com/2013/03/san-cristobal-de-las-casas.html

Publicado no Boletim da SPP nº 288 de abril de 2017

 

O Espiritismo na Filatelia Brasileira – 2ª parte – O Afro-Espiritismo

A Umbanda é uma junção de elementos africanos (orixás e culto aos antepassados), indígenas (culto aos antepassados e elementos da natureza), do catolicismo (cirstianismo e seus santos que foram sincretizados pelos negros africanos), espiritismo (fundamentos espíritas, reencarnação, lei do karma, progresso espiritual).

A Palavra Umbanda

O termo “Umbanda” ou “embanda” são oriundos da língua quimbunda de Angola, significando “magia”, “arte de curar”. Há também a suposição de uma origem em um mantra na Língua adâmica cujo significado seria “conjunto das leis divinas” ou “deus ao nosso lado”. A língua adâmica seria a linguagem falada por Deus, Adão e Eva no paraíso, portanto a linguagem universal.

Existe a grafia original da palavra “mbanda” significando “a arte de curar” ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”, sendo que “mbanda” quer dizer “o Além, onde moram os espíritos”.

Após o Congresso Umbandista de 1941, declarou-se que “umbanda” vinha das palavras do sânscrito aum e bhanda, termos que foram traduzidos como “o limite no ilimitado”, “Princípio divino, luz radiante, a fonte da vida eterna, evolução constante.”

História da Umbanda

1 - FIG 01 ZELIOEm 1907 ou 1908 o jovem Zélio Fernandino de Morais, prestes a ingressar na Marinha Brasileira começou a sofrer “ataques” de loucura, assumindo a identidade de um velho e falando coisas incompreensíveis, ou de um felino. Examinado por um médico, foi orientado que fosse procurar um padre, mas a família optou por levá-lo a um centro espírita, na Federação Espírita de Niterói, no Rio de Janeiro.

Neste dia (15 de novembro), sentado à mesa dos trabalhos espíritas, Zélio incorporou negros e índios, sendo que o dirigente dos trabalhos alertou os espíritos a se retirarem dali, pois os considerava atrasados. Retrucando, o espírito ali encorporado identificou-se como Caboclo das Sete Encruzilhadas, falando de suas várias vidas e de sua missão.

No dia seguinte, os trabalhadores do Centro Espírita foram à casa de Zélio, em São Gonçalo, para comprovar a veracidade dos fatos, quando novamente o médium incorporou suas entidades, declarando que os espíritos de velhos negros escravos e índios tinham a missão de ajudar na prática da caridade, orientação e cura de qualquer pessoa que lhes procurassem, independente de raça, cor ou credo religioso. Estava então fundado o primeiro Terreiro de Umbanda, chamado de Tenda Espírita de Nossa Senhora da Piedade.

O Caboclo estabeleceu normas de conduta e trabalho, todas baseadas no Evangelho de Jesus Cristo. Em 1918 foram fundadas mais sete tendas de umbanda, em 1939 é criada a União Espírita de Umbanda no Brasil, que em 1941 organizou o Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Nele, os participantes tentaram mostrar uma origem ancestral da Umbanda, inclusive alegando que ela se degenerou na África em feitichismo.

O segundo congresso foi realizado no Maracananzinho em 1961. No terceiro congresso, em 1963, a Umbanda se firmou como religião expressiva nos campos da assistência, contando, além dos centros espíritas, com escolas, creches, ambulatórios com a missão de prestar caridade e ajuda. Na década de 90, apesar de ter sido alvo de ataque das diversas correntes neopentecostais, foi criada a Faculdade de Teologia Umbandística, mantida pela Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino.

Com o passar dos anos, a Umbanda dividiu-se em diversas correntes, mas sempre seguindo os seus preceitos básicos. Apesar de diferentes vertentes existem alguns conceitos encontrados que são comum a todas, sendo estes:

Um deus único e onipresente, chamado Olorum ou Zambi.
Crença nas Divindades ou orixás
Crença na existência de Guias ou entidades espirituais
A imortalidade da alma
Crença nos antepassados
A reencarnação
O carma
Lei de causa e efeito pela qual os umbandistas pagam o bem recebido com o bem e o mal com a justiça divina

Além desses preceitos, a Umbanda exige a fraternidade, a caridade e o respeito ao próximo, utilizando-se também de médiuns para comunicação entre os espíritos e orixás com seus seguidores.

Dia Nacional da Umbanda

2 - FIG 02 DIA DA UMBANDA

A data de 15 de novembro foi escolhida por ter sido o dia, em 1908 em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou através do médium Zélio Fernandino de Morais. (fig.2)

Os Orixás

Os orixás são ancestrais divinizados africanos que correspondem a pontos de força da natureza. As características de cada Orixá os tornam humanizados, pois eles manifestam-se através de emoções como raiva, ciúmes, amor, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, oferendas, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus Orixás vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente.

3 - FIG 03 ORIXAS

Candomblé

O Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação.

Dentre as nações africanas praticantes do animismo, cada uma tinha como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos que agrupados nas senzalas, nomeavam um “zelador de santo”, também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres.

A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos entre 1549 e 1888, é que tentaram continuar praticando suas religiões em terras brasileiras. Foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros, mas a junção, via sincretismo, de diversas religiões e cultos europeus, africanos e indígenas.

Final

Assim como outras religiões, a Umbanda sofreu a repressão política durante a era Vargas até 1950. Uma lei de 1934 colocava as religiões sob a vigilância do Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia, quando então a religião oficial no Brasil era a católica. Isso fez com que muitos Centros de Umbanda trabalhassem na clandestinidade, sendo vítimas de perseguição policial.

Sendo uma religião de matriz africana e completamente adaptada ao Brasil, via um sincretismo profundo, a Umbanda pode ser considerada uma religião completa, por reunir preceitos do Cristianismo, das religiões africanas e dos cultos indígenas. A umbanda é atacada pelos neopentecostais, assim como o Kardecismo e o Candomblé. Esta última ataca a Umbanda por considerá-la superficial demais em relação aos rituais mais profundos de cultos aos Orixás.

Outras Peças Filatélicas:

Carimbo de Pierre Verger

4 - FIG 04 PIERRE VERGERPierre Edouard Léopold Verger (1902-1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Ele realizou um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e nas culturas populares dos cinco continentes. Além disto, produziu uma obra escrita de referência sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, voltando seu olhar de pesquisador para os aspectos religiosos do candomblé e tornando-os seu principal foco de interesse.

Ilê Axé Opó Afonjá

Ilê Axé Opó Afonjá (“Casa de Força Sustentada por Afonjá”) ou Centro Cruz Santa do Axé do Opó Afonjá é um terreiro de candomblé fundado por Eugênia Ana dos Santos, em 1910, na Rua Direta de São Gonçalo do Retiro, 557, no bairro do Cabula, em Salvador, na Bahia, no Brasil. O seu tombamento ocorreu em 28 de julho de 2000 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Escolástica Maria da Conceição Nazaré

Escolástica Maria da Conceição Nazaré, filha de Oxum, era do terreiro do Gantois. Considerada a grande mãe-de-santo do Candomblé no Brasil, Menininha do Gantois foi uma grande líder espiritual que ajudou a tornar mais aceita a religião herdada de seus ancestrais africanos.

7 - FIG 07 MAE MENININHA 001007

Adendos:

Carimbos:
7462 – 4/23.11.2002 Salvador-BA Pierre Verger Fotografia Jornalismo Umbandista
8370 – 8/22.2.2007 Salvador-BA Mãe Menininha de Gantois Candomblé Umbanda
1838 – 12/20.11.72 Rio Religião Umbanda
3616 – C1274/6 21/27.8.82 Salvador-BA Religião Umbanda Orixás
4275 – 13/19.8.87 Salvador-BA Candomblé Menininha de Gantois Umbanda
5033 – 29.5.92 Brasília-DF Candomblé Umbanda

Selos:
1274/76 – Indumentária dos Orixás
3289 – Terreiro Histórico Ilê Opô Afonjá
3363 – Sincretismo Religioso – Zélio Fernandino de Morais

Bibliografia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Umbanda
http://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/biografia/biografia.html
http://educacao.uol.com.br/biografias/mae-menininha-do-gantois.htm
Coleção temática “A Escravidão no Brasil”, do autor deste artigo
Catálogo Zioni
Catálogo RHM 2016

Artigo publicado no Boletim da SPP nº 227 de dezembro de 2016

O Espiritismo na Filatelia Brasileira – 1ª parte – Allan Kardec

Fig 1 - Allan KardecHippolyte Léon Denizard Rivail, (Lyon, 1804 — Paris, 1869), educador influente, autor de diversos livros, poliglota ((falava francês, alemão, italiano, holandes e espanhol), com estudos na Suiça e na Alemanha, bacharelando-se em Ciências e Letras e formando-se em Medicina, foi o codificador da Doutrina Espírita sob o pseudônimo de Allan Kardec (fig.1).

Foi discípulo do reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos que antes costumavam ser considerados inadequados para uma investigação do tipo. Adotou o seu pseudônimo para uma diferenciação da Codificação Espírita em relação aos seus anteriores trabalhos pedagógicos.

Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência em Paris, cursos gratuitos de Química, Matemática, Física, Anatomia comparada, Fisiologia, Astronomia, Francês e Retórica e outros. Nesse período, preocupado com a didática, elaborou um manual de aritmética, (adotado por décadas nas escolas francesas), e um quadro mnemônico da História da França, que visou facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.

A Obra da Codificação Espírita

Conforme o seu próprio depoimento publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das “mesas girantes”, bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal do qual era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais fenômenos se produziam.

Durante este período, tomou conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica – ou psicografia, e assim passou a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido como um “espírito familiar”, passa a orientar os seus trabalhos e lhe informa que já o conhecia do tempo das Gálias, com o nome de Allan Kardec. Assim, Rivail passa a adotar este pseudônimo, sob o qual publicou as obras que sintetizam a Doutrina Espírita.

Kardec integra toda uma estrutura de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científicos, filosóficos e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do homem.

Iniciou a publicação das obras de Codificação em 18 de abril de 1857, com o Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo. Lança em seguida a Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundando nesse mesmo ano uma primeira sociedade espírita regularmente constituída com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

A Codificação Espírita compreende cinco livros, ou um pentateuco: Livro dos Espíritos, A Gênese, Céu e Inferno, Livro dos Médiuns e Evangelho segundo o Espiritismo. Há um sexto livro de Kardec lançado após a sua morte, o Obras Póstumas.

Selos Brasileiros sobre o Espiritismo

C-387 – Centenário da Codificação Espírita, Selo da Codificação

EPSON scanner ImageO primeiro selo comemorativo sobre o Espiritismo no Brasil foi lançado em 18 de abril de 1957, o C-387, na cor marrom, comemorando o Centenário da Codificação do Espiritismo e carimbo comemorativo (Zioni 579, RJ). Este é o 1º selo sobre Espiritismo no mundo, graças à iniciativa e ao exaustivo trabalho da Federação Espírita Brasileira (FEB), na presidência de Antônio Wantuil de Freitas.

A revista “O Cruzeiro” datada de 05/01/1957, antecedeu mais de três meses (104 dias) ao lançamento do selo. Ela apresentava em primeira mão, tanto na edição portuguesa como na castelhana, na página 81 em sua seção “Filatelia”, o desenho-prova do primeiro selo espírita, através da matéria de Armando Paiva (transcrita abaixo):

Fig 3 - Revista-Cruzeiro

“Selo Comemorativo do 1.º Centenário da Codificação do Espiritismo – A revista O CRUZEIRO, em primeira mão, apresenta o desenho do selo comemorativo da Codificação do Espiritismo. Inúmeros selos comemorativos católicos e alguns protestantes já foram emitidos pelo D.C.T., e em princípios de 1957 teremos um sêlo espírita. É essa, realmente, mais uma demonstração inequívoca do alto espírito de liberdade e igualdade religiosa de que se orgulha o Brasil.”

C-511 – Centenário da Codificação Espírita, Selo do Evangelho

Allan KardecEm 14 de junho de 1963 Antônio Wantuil de Freitas, Presidente da FEB, dava entrada nos Correios de um bem justificado requerimento, solicitando a emissão do segundo selo postal espírita, a que mais tarde chamariam simplesmente o “Selo do Evangelho”.

O selo é lançado pela ECT em 18 de abril de 1964 na cor verde e apresenta a figura de Allan Kardec e sua assinatura, e a inscrição “O Evangelho da Codificação Espírita – 1864-1964”  e carimbos comemorativos (Zioni 969A RJ, GB e 969B SP, SP)

C-631 – Centenário da Morte de Allan Kardec, Selo da Desencarnação

Fig 5 C-631Em 1869, por ocasião do centenário do desencarne de Kardec, novamente o Departamento de Correios do Ministério das Comunicações, através de seu Diretor Geral, General Rubens Rosado Teixeira, adere aos festejos espíritas editando o selo e o carimbo relativos à data da desencarnação do Codificador (Zioni 1411).

O selo mostra a efígie do espírita e a sua tumba no plano de fundo prestando homenagem ao falecimento de Allan Kardec, ocorrido cem anos antes em Paris. No lado esquerdo, o selo apresenta a imagem do túmulo de Kardec, no cemitério Père-Lachaise, em Paris.

Existem duas clássicas variedades citadas no Catálogo RHM: o selo sem a cor verde (RHM C-631A) e o selo sem o sépia ou ocre (RHM C-631B).


C-640 – Centenário da Imprensa Espírita

O selo PRIMEIRO CENTENÁRIO DA IMPRENSA ESPÍRITA NO BRASIL presta homenagem ao baiano Luís Olímpio Teles de Menezes – fundador do primeiro jornal espírita brasileiro, em 1869, na cidade de Salvador: “O Eco de Além-Túmulo” , originalmente intitulado “O ÉCHO D’ALÉM-TÚMULO”.

Fig 8 O Echo D_Além-Túmulo

“Vários layouts do selo foram ideados pelo ilustre artista Sr. Bernardino da Silva Lancetta. Apreciados em janeiro de 1968, a escolha recaiu naquele que, pela simplicidade e nobreza da concepção, melhor representava o motivo em pauta, ou seja, os 100 anos da imprensa espírita em nossa Pátria.” (Texto extraído da Revista Reformador, de julho/1969 – FEB.)

O selo C-640 foi emitido em 26 de julho de 1969 com carimbo comemorativo Zioni 1439A Porto Alegre, 1439B Rio de Janeiro, 1439C Salvador e 1439D São Paulo

Fig 9 FDC Imprensa Espírita

C-2597 – Bicentenário de Nascimento de Allan Kardec

O selo presta homenagem a encarnação (nascimento) de Allan Kardec ocorrida duzentos anos antes, na rua Sale, 76 em Lyon – França, em 03 de outubro de 1804, fundador da Doutrina Espírita.

Fig 10 C-2597Este selo apresenta a logomarca internacionalmente utilizada nas comemorações do Bicentenário, a qual focaliza um busto em cobre, localizado no túmulo de Kardec, e a cepa da videira, elemento presente em sua obra, cuja nobreza é representada pela faixa amarela dourada que contorna a efígie. À esquerda, e na parte inferior, as cores verde e amarelo, tendo sobreposta a assinatura de Allan Kardec, simbolizam o Brasil, onde o Espiritismo criou as mais profundas raízes. O lema “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” foi a bandeira que conduziu sua vida.

O selo C-2597 foi emitido em 3 de outubro de 2004 e carimbo comemorativo Zioni-7916 de Brasília, DF. Às 16 horas do dia 5 de outubro se realizou no 4º Congresso Espírita Mundial, na França, o ato simbólico de lançamento do selo emitido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em homenagem a Allan Kardec. O Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira, Altivo Ferreira, presidiu a solenidade. Além do selo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos criou um carimbo especial do 4º Congresso Espírita Mundial Zioni 7914, Paris, França).

O lançamento oficial desse Selo Comemorativo foi realizado simultaneamente em Brasília (11 horas – hora local), também pelos Correios do Brasil. Realizou-se, desta forma, um lançamento bi-nacional do Selo.

Carimbos Comemorativos

Fig 11 - Carimbos Zioni

Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec
http://nucleoespiritaverbodeluz.blogspot.com.br/2011/06/filatelia-allan-kardec.html
http://www.ebay.com
Catálogo Zioni
Catálogo RHM 2010

Artigo publicado no Boletim da SPP nº 226 de Agosto de 2016

A Aclamação de Amador Bueno

Artigo publicado no Boletim da SPP nº 223 de agosto de 2015

3 - FIG 2 AMADOR BUENO
Fig. 1 – Amador Bueno
“Retrato supositício” pelo artista Belmonte, publicado com o texto na obra do IHGSP

Amador Bueno de Ribeira, personagem da História do Brasil pouco (ou nada) estudado na História do Brasil, nasceu em 1584 e faleceu em 1649 (anos aproximados). A história registra que foi aclamado rei em 1641 pela população pró-castelhana como reação ao fim da união dinástica entre Portugal e Espanha. Amador Bueno prontamente recusou a aclamação dando vivas ao rei D. João IV de Portugal. Foi um ato impulsionado pela mesma revolta, de 1641, que se conheceu popularmente como Botada dos Padres-Fora, (por dirigir-se contra os jesuítas). O mesmo espírito de rebelião se respirava nos dois movimentos ou impulsos populares.

Seu pai era espanhol nascido em Sevilha, chamado Bartolomeu Bueno e viera ao Brasil em 1550, morrendo em São Paulo em cerca de 1620, tendo sido vereador em 1616.

Amador Bueno foi capitão-mor e ouvidor da capitania de São Vicente em 1627. Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos. Contrariando o golpe de estado de 1º de Dezembro de 1640 no Reino de Portugal, os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes.

  • A efígie de Amador Bueno foi desenhada, a pedido do Instituto Histórico e Geográfico
    2 - Fig 1 Belmonte
    Fig. 2 Belmonte

    de São Paulo ao cartunista Benedito Bastos Barreto (1896-1947) que assinava como Belmonte. O cartunista é o criador do Juca Pato e foi um dos maiores ilustradores de chargas contra a Segunda Guerra Mundial (Fig.2).

No entanto, Amador Bueno recusou a honra e, com a espada desembainhada deu vivas ao rei de Portugal, assumindo-se como seu leal vassalo, depois de sessenta anos de União Ibérica, aliando-se à restauração da monarquia portuguesa. Ameaçado de desacato, Amador Bueno, tinha-se refugiado no mosteiro beneditino pedindo a intervenção do abade e seus monges.

“Desceram à praça fronteira o prelado e sua comunidade, procurado convencer os manifestantes que deviam abandonar o intento que os congregara. (….) Arrependidos do seu desacordo, resolveram os aclamadores aderir ao movimento restaurador do 1º de Dezembro de 1640. E assim foi D. João IV solenemente reconhecido soberano dos paulistas a 3 de abril de 1641, num gesto esplêndido de solidariedade lusa, do qual a unidade do Brasil imenso viria valer-se pelo alargamento extraordinário de sua área.” ( Afonso Taunay em “Ensaios Paulistas”) (Fig.3)

1 - Fig 4 Bilhete Postal
Fig. 3 – Máximo Postal da Aclamação de Amador Bueno com carimbo de João Pessoa datado de 31 de outubro de 1941

Por esse ato, Amador Bueno recebeu uma carta de el-rei em que lhe agradecia a lealdade. Quase duzentos anos depois, Dom Pedro I fez questão de ressaltar que foi aclamado Imperador pela primeira vez na terra do “fidelíssimo e nunca assaz louvado Amador Bueno de Ribeira”. Amador era homem riquíssimo e de muito bom senso, que gozou do maior prestígio. Casou com Bernarda Luís e tiveram numerosa descendência, entre elas um filho, bandeirante, também chamado Bartolomeu Bueno como seu avô e seu tio e um filho chamado, para distinguir do pai, Amador Bueno, o Moço, também bandeirante.

Amador Bueno morreu em data incerta entre 1646 e 1650. Acredita-se que tenha sido sepultado na parte desaparecida do Convento de São Francisco. Amador Bueno foi o bisavô de outra personagem importante da história de São Paulo, Amador Bueno da Veiga, que comandou os paulistas na Guerra dos Emboabas. Foi também tio e tutor de Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro “Anhangüera”.

Segundo o geneticista Sérgio Pena, contam-se hoje aos milhares os descendentes de Amador Bueno. Dentre eles estão vultos como Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Roberto Marinho , Júlio de Mesquita Filho, Walter Moreira Sales, Vicente de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade e Bárbara Heliodora.

7 - Fig. 3 Quadra
Fig. 4 – Quadra do selo C-169 sem picote

Amador Bueno foi homenageado com o selo RHM C-169 em 20 de outubro de 1941 (Fig. 4) por ocasião do Tricentenário da Aclamação. Três séculos depois, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo publicou, em 1941, uma “plaquette”, em mil exemplares, dedicada “A Amador Bueno no Tricentenário de Sua Aclamação como Rei de São Paulo – 1641-1941”. Injustamente Amador Bueno nunca foi homenageado com nenhum carimbo comemorativo. O verso do cartão da figura 1 foi circulado com um carimbo particular por ocasião do tricentenário da Aclamação de Amador Bueno (Fig. 6), contendo um erro: marca apenas a palavra “centenário” ao invés do tricentenário.

5 - Fig 5 Bilhete Postal verso
Fig. 5 – Verso do cartão da figura 1, com carimbo particular erroneamente feito com a palavra “centenário” ao invés de “tricentenário” de Amador Bueno
6 - Fig 6 Carta
Fig. 6 – Carta circulada em 17 de outubro de 1941 de São Paulo para Bahia, com manuscrito na parte superior “pelo Correio Aéreo Militar”. Teria sido mesmo?

Bibliografia:
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0355d.htm
http://www.wikipedia.org.br
http://www.oselo.com.br
Catálogo RHM

Os Selos Locais da Ilha Herm

Publicado no Boletim Filacap nº 190 ano 43 de fevereiro de 2017.

Herm é a uma das Ilhas do Canal, um grupo de ilhas situadas no canal da Mancha, ao largo da costa francesa no Golfo de Saint-Malo,  a oeste da península do Cotentin. (figs 1 e 2).

Herm foi ocupada desde tempos pré-históricos: foram descobertos na ilha vestígios de tumbas funerárias que remontam ao Neolítico. Os primeiros registos de habitantes nesta ilha remontam contudo ao século VI, quando a ilha tornou-se um centro monástico. Existem duas explicações para o nome Herm: uma primeira teoria fala de que deriva do termo eremita (hermit, em inglês) a outra teoria defende que deriva do antigo norueguês Herm vem da palavra erm referindo-se a um braço, tal como é a forma da ilha fig.3.

4 - Fig 04 Ilha de Herm
Fig. 3 – Ilha de Herm

 

Contudo, os monges sofreram com os rigores do Atlântico. No ano 709 uma enorme tempestade fez desaparecer a faixa de terra que ligava a ilha com outra, a pequena ilha desabitada de Jethou.

O momento mais importante na história política de Herm foi em 933, quando as Ilhas do Canal foram anexadas ao Ducado da Normandia (Elas permanecem à Coroa Britânica desde a divisão da Normandia em 1204).

Depois da anexação, a ilha de Herm perdeu gradualmente a sua população monástica, e entre 1570 e 1737 foi usada como tereno para caçadas pelos governadores de Guernsey.

No século 20, a indústria chegou à ilha, com o estabelecimento de pedreiras de granito para ser utilizadas nas fortificações das outras ilhas. A ilha foi arrendada pela Coroa e geralmente não existiam visitantes. Quando Príncipe Blücher foi o governador antes da Primeira Guerra Mundial, foi introduzida uma colonia de cangurus de pequeno porte que não sobreviveram.

Como aconteceu com as restantes Ilhas do Canal, Herm foi ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, que deixaram poucos vestígios da sua presença.

Depois do final da guerra, Guernesey decidiu comprar a ilha à Coroa de forma que os habitantes de Guernsey pudessem desfrutar da ilha de Herm. Guernsey arrendou a ilha a um governante que tem a incumbência de beneficiar os seus visitantes. O mais importante arrendatário foi Peter Wood, que supervisionou a ilha de 1949 a 1998.

POLÍTICA E DEMOGRAFIA

Herm é uma dependência de Guernsey. Nesta ilha estão proibidos de circular os automóveis tal como na ilha vizinha de Sark. Contudo, a ilha de Herm permite que os seus habitantes possam usar bicicletas e tratores.

O turismo é a principal atividade econômica da ilha senão a única (Fig 4).

3 - Fig 03 White House Hotel
Fig 04 – White House Hotel

A população fixa da ilha é de cerca de 60 habitantes, sendo que no período de turismo da ilha (verão do hemisfério norte) ela recebe cerca de mais 90 temporários para trabalharem no turismo. A ilha tem um hotel, um pub, três lojas de presentes, dois cafés de praia, dois parques de campismo e vinte casas de férias.

AS ORIGENS DOS SELOS DE HERM

 A história postal de Herm começa em 1º de maio de 1925 quando os Correios Britânicos estabeleceram um sub-escritório na ilha. Aberto apenas meia hora por dia, provou ser antieconômico encerrando suas atividades em 30 outubro 1938.

5 - Fig 5 Selo Churchill
Fig. 5 Churchill

Em 1948, o então arrendatário de Herm, A.G. Jefferies, procurava explorar o potencial turístico da ilha e pediu que o gabinete fosse reaberto, o que lhe foi negado pelo diretor geral dos correios. Jefferies decidiu estabelecer o seu próprio serviço postal local de Herm para St. Peter Port, em Guernsey, onde seria entregue à estação de correios para posterior envio para o resto do mundo Os primeiros selos foram produzidos para a venda em 26 maio de 1949, com toda a carta devendo ser porteada também com selos britânicos (figs. 5 e 6).

6 - Fig 6 Serie
Fig. 6

Os selos Herm foram colocados na parte de trás dos envelopes ou no canto superior esquerdo dos cartões postais. Um único selo foi emitido também para pagar mensagens urgentes carregadas por pombos-correio. Herm somente teve linha telefônica para Guernsey em 1949.

7 - Fig 7 Frente de FDC
Fig. 7 – FDC Europa, 18 de setembro de 1961

Os selos de Herm foram produzidos até 1 de outubro de 1969, quando Guernsey assumiu o controle de seus próprios serviços postais, parte dos serviços britânicos. Nesta data foram proibidos produzir ou selar cartas com os selos de Herm. NemIlha Herm nem Guersney constam como afiliados à União Postal Universal em seu site.

Um novo posto de correios foi novamente estabelecido em Herm depois que Guernsey ganhou sua própria administração postal em 1969 e isso significou o fim para os selos locais de Herm. O serviço local produziu cerca de 27 números de selos, compostos por 112 selos individuais. Em quatro ocasiões, entre 1953 e 1957, a escassez de carimbo dos valores de ½d significava que os selos 1d foram divididos para uso em cartões postais e estes, usados corretamente em cartões, são peças filatélicas maravilhosas e difíceis de serem econtradas (fig 8).

9 - Fig 8 Envelope com selo bissetado
Fig. 9 – Cartão Postal circulado em 12 de setembro de 1954 com selo da Ilha Herm bissetado mais selo de porte da Inglaterra

Bibliografia
http://herm.com/
http://www.wikipedia.org/wiki/Herm
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1061890/No-place-like-Herm-Couple-buy-tiny-Channel-island-fell-love.html
https://www.seasonworkers.com/skijobs/resorts/channel%20islands/herm-island-296.aspx
http://herm.com/gift-shops/herm-stamps/default.aspx
http://gbstamp.co.uk/article/the-fascinating-local-stamps-of-herm-in-the-channel-islands-395.html
http://www.silverdalen.se/stamps/che98/he50_59/her50_59.htm
http://www.upu.int/en/the-upu/member-countries.html

Os Selos Locais de Lundy

Publicado no Boletim Filacap nº 189 ano 42 de outubro de 2016.

Fig 1 Ilha de Lundy
Fig. 1 Mapa de Lundy

Lundy é a maior ilha do canal de Bristol distando 19 km da costa de Devon, na Inglaterra, em direção ao País de Gales. O comprimento da ilha é de aproximadamente 5 km (fig.1).

Em 2007 a população residente era de 28 pessoas, incluindo voluntários. Entre as 28 pessoas, existia um guarda, um encarregado da ilha e um granjeiro, além de empregados de um bar. A maioria da população vive ao sul da ilha. Os visitantes são geralmente excursionistas de um dia, mesmo tendo a ilha 21 propriedades de férias e um acampamento para visitantes, localizados principalmente ao sul.

O número máximo de habitantes ocorreu em 1881, quando a ilha teve cerca de 180 habitantes. Em 1911 a população era de 43 homens e 26 mulheres, incluindo-se aí a tripulação do farol e o agente do correio, habitando ao todo 12 casas.

Numa votação em 2005 feita pelos leitores da Radio Times, Lundy foi nomeada como a décima maravilha da Grã-Bretanha. Toda a ilha foi designada como Sítio de Especial Interesse Científico e foi a primeira Reserva Natural Marinha da Inglaterra, devido a sua flora e fauna únicas (fig.2). É comandada pela Landmark Trust em nome da National Trust. A ilha tem 345 hectares de área.

Fig 2 Lundy praia
Fig. 2 – Praia em Lundy
  • RADIO TIMES
  • Revista britânica semanal de listas de programação, fundada e publicada entre 1923 e 2011 pela BBC Magazines. Depois deste ano, a sua publicação foi passada para a Immediate Media Company.
  • LANDMARK TRUST
  • Há mais de 50 anos o filantropo John Smith e sua esposa fundaram a Landmark Trust, cujo o objetivo era tentar evitar a perda de edifício históricos.
  • John Smith já era uma figura de destaque no mundo da conservação: um entusiasta comprometido em edifícios e outras estruturas históricas. Sua experiência o levou a concluir que deveria investir em edifícios e construções fora de moda para qualquer outra pessoa. E assim, em 1965, o Landmark Trust veio a criar, em conjunto os Smiths, a coleção Landmark, que conta hoje com quase 200 edifícios em diversas partes do mundo.

O FINAL DO CORREIO INGLÊS EM LUNDY

Fig 3 Lundy_post
Fig.3 Antiga caixa de correio de Lundy

Devido a um declínio na população e falta de interesse em manter o transporte de cartas da ilha, o correio inglês encerrou seu trabalho no final de 1927 (fig.3). Nos anos seguintes, “King” Harman criou um sistema próprio de correio da ilha para o continente e vice-versa. Em 1 de novembro de 1929 ele decidiu compensar a despesa através da emissão de uma série de selos postais privados, com um valor expresso em “Puffins”. A impressão destes selos continua ainda hoje (fig.4 e 5). Eles são colados no canto inferior esquerdo do envelope, para que os centros de triagem do continente possa processá-los: seu custo inclui os encargos normais de correio para a frente de entrega, ou seja, a unidade de correio inglês mais próxima no continente (fig.6).

 

Fig 6
Fig. 6 – Cartão postal circulado de Lundy para Birminghan em 1953 com postagem da ilha para o continente e postagem para o destino com selos ingleses

Martin Coles Harman (nascido em 1885 em Steyning, Sussex) era um homem de negócios

Fig 7
Fig. 7 Moeda da ilha com a efígie de Martin Coles Harman (“King Harman”)

inglês que comprou a ilha de Lundy em 1925 e auto-proclamou-se Rei de Lundy. Mais tarde ele emitiu uma moeda independente em Lundy denominada Puffin (½ Puffin e de 1 Puffin) (fig.7), que eram nominalmente equivalentes ao Halfpenny e Penny britânicos, resultando em sua perseguição pelas autoridades do Reino Unido pela emissão de moedas ilegais sob a Lei de cunhagem de 1870. A Câmara dos Lordes considerou-o culpado em 1931, e ele foi multado em £ 5 mais despesas. As moedas foram retiradas de circulação e tornaram-se objetos de coleção.

 

Este tipo de selos é conhecido na filatelia como uma “etiqueta de transporte local”. Os valores foram crescendo com a inflação sendo criado inclusive selos para correio aéreo.

Os selos da Ilha de Lundy servem para cobrir a postagem de cartas e cartões da ilha para caixa postal inglesa mais próxima no continente não só para os moradores como também para os muitos milhares de visitantes que anualmente desembarcam na ilha.

Os selos de Lundy tornaram-se parte da coleção dos muitos colecionadores britânicos de selos locais e de colecionadores do mundo todo. Lundy e seus selos apareceram em 1970 no Rosen, Catálogo de Selos Locais Britânicos, e no Phillips Locals Britanic, moderno Catálogo em CD publicado desde 2003.

Fig 8
Fig. 8 Labbe´s Specialized Guide to Lundy Island, 2016 edition

Encontramos na internet um Catalogo de Selos de Lundy feito por Anders Backman indicando que o primeiro selo foi emitido em 1929. A última anotação do site indica o ano de 1997 com um total de 306 selos editados.

Outro catálogo é editado por Patrick C.Labbe, membro da American Philatelic Society, da United States Possessions Philatelic Society e da Local Post Collectors Society, o Lundy Island Stamps: Labbe´s Specialized Guide to Lundy Island 2016, contando 369 selos emitidos até 2015, à venda em CD-ROM (fig 8).

 

Bibliografia:
www.wikipedia.org
http://www.lundy.org.uk/download/resources/Lundy1911.pdf
http://www.silverdalen.se/stamps/lundy/lundy_cat.htm
http://lundy2007.tripod.com/
http://www.upu.int
http://www.stampcommunity.org/topic.asp?TOPIC_ID=11056
http://www.landmarktrust.org.uk/about-us/history/
http://genome.ch.bbc.co.uk/
http://www.ebay.com

Os Selos de Taxa da Ferrovia de Hedjaz, Império Turco-Otomano

Publicado no Boletim Filacap – Edição Especial ano 39 de junho de 2013

A HISTÓRIA

A Estrada de Ferro de Hedjaz (ou Hejaz) foi sugerida em 1864, e construída no período entre 011900 e 1908, com a finalidade de facilitar as peregrinações aos locais sagrados muçulmanos, mas estrategicamente para fortalecer o domínio otomano em províncias distantes, bem como uma via economicamente forte para as finanças do Império.

A obra foi autorizada por Sua Majestade Imperial, o Sultão do Império Otomano Abdulhamid II, 34º sultão do Império, o último que o governou com poder absoluto, também conhecido como Ulu Hakan , o Grande Khan e também como Kizil Sultan, o Sultão Vermelho (fig. 1). Foi deposto em 1909 na Jovem Revolução Turca.

O trajeto principal, de Damasco a Medina (a ferrovia nunca chegou a Meca) tinha 1.320 quilômetros, passando pela Transjordânia e noroeste da Arábia, para a região de Hedjaz, onde se situam Medina e Meca.

02

A ferrovia substituiu as antigas rotas de caravanas (cujas viagens de ida e volta a Damasco levavam quatro meses), criando um novo inimigo ao Império. Foram necessários 5.000 soldados otomanos para construir, manter e guardar a ferrovia, sob a orientação do engenheiro alemão Heinrich Augusto Meissner. A construção encontrou inúmeras dificuldades: tribos hostis e imprevisíveis, terreno difícil, rochoso ou arenoso, calor extremo, pó e tempestades de areia, e às vezes inundações repentinas por tempestades torrenciais que destruíam as linhas e pontes. 

Ao mesmo tempo foi iniciada a construção da Estrada de Ferro Berlim-Bagdá, e as duas estradas se interrelacionariam. A outra intenção da construção da ferrovia seria a de proteger Hejaz e outras províncias árabes da invasão britânica.

03
Fig. 3

Concluída em 1908, transportava em 1914 cerca de 300.000 passageiros por ano (fig. 3), mas não somente peregrinos. A estação foi inaugurada em 1908, aniversário da ascensão do Sultão Abdulhamid II ao poder, mas a principal estação, a de Hedjaz (fig. 4) em Damasco iniciou suas operações em 1913, sendo o ponto inicial para Medina. Na Primeira Grande Guerra a Turquia transportava tropas e mantimentos, havendo inúmeras tentativas para desmantelar a linha para impedir a ofensiva do exército turco. O ramal entre a Jordânia (Ma´an) e Medina sofreu danos irreparáveis por sabotagem, principalmente pela estratégia militar inglesa por T.E.Lawrence (fig. 5) , que junto com as forças árabes descarrilhou comboios e locomotivas que transportavam tropas turcas (fig. 6).

No final da primeira guerra, as linhas em funcionamento foram controladas pelos respectivos governos da Síria, Palestina e Transjordânia, servindo principalmente como atração turística.

O FINANCIAMENTO

Foi aberta uma subscrição no mundo Islâmico para a constituição de fundos para a sua construção. A obra foi um grande desafio econômico e de engenharia, com custo estimado em 4 milhões de liras, sendo aberta uma subscrição para todas as nações e autoridades islâmicas. Donativos da Índia e do Egito causaram protestos do governo britânico, mas também houve subscrições do Marrocos, Rússia, China, Singapura, Holanda, Irã, África do Sul, Américas. Foram distribuídas moedas de bronze, prata e ouro a autoridades que fizeram suas contribuições.

IMPOSTOS POR SELOS FISCAIS

07
Fig 7

Após as doações, os impostos cobrados por selos fiscais chegaram a 22% do orçamento. Foram emitidos inúmeros tipos de selos fiscais, utilizados em documentos (fig. 7), passaportes, recibos e em correspondência (fig. 8 a 12), apesar de não temos encontrado nenhum envelope com estes selos, mas somente fragmentos com carimbos obliteradores postais.

A grande maioria dos selos tem aposto sobrecarga vermelha ou preta e até manuscrita, sempre com referência ao Sultão (tughra, marca do Sultão) da época ou alusivas à construção da ferrovia e mesmo com alterações de valores de taxas (ocorrência muito comum). Também foram usados em 1917 na cidade de Adana e distritos como taxa de cigarros de papel.

 

USOS DIVERSOS DOS SELOS DA FERROVIA DE HEDJAZ

Os selos foram utilizados pelos governos do Império Otomano, e após a sua queda pelo Governo Turco, além de outros países estrangeiros em ocupação no território otomano:

  • selos fiscais da Ferrovia de Hedjaz usados normalmente com sobrecarga
  • selos fiscais otomanos com sobrecarga do Grande Assembleia Nacional Turca
  • emissão provisória na Guerra da Independência Turca
  • ocupações estrangeiras

13Das ocupações destacamos a Ocupação Italiana nas ilhas do Egeu e como títulos da dívida pública otomana (sobrecarga “Debito Publlico Ottomana”); ocupação grega na Anatólia, Ilha de Rodes e Europa Otomana; ocupação britânica na Mesopotâmia (Iraque), ocupação francesa na Síria e Líbano (fig. 13).

FINALMENTE

Selos de sobretaxa tem sido utilizados em correspondência em diversos países, quer como taxas de guerra (war tax), para benfeitorias (Brasil, taxa pró-aeroportos), saúde (Brasil, série Hansen) e para outras finalidades.

O estudo da história da Ferrovia de Hedjaz é muito interessante e cheio de desfechos, mas o grande desafio é o estudo filatélico, quando selos fiscais são utilizados para donativos e subvenções, verdadeiro desafio para o filatelista, quer pela pouca literatura disponível, quer pela dificuldade das línguas faladas no oriente. Há muito que se procurar, investigar, estudar e principalmente corrigir os erros que certamente virão nesta coleção, uma história cheia de segredos de uma ferrovia que já completou 100 anos. (fig. 14)

14

 

Bibliografia:

Ottoman Turkish Empire, Revenue Stamps of the Hejaz Railway, issued between 1904 and 1918, Steve Jacques, 2012
Wikipedia, diversas páginas
Imagens: internet, ebay, delcampe

Detalhes Importantes nos Selos da Turquia

Publicado no Boletim Filacap nº 168 ano 36 de dezembro de 2010

Os caracteres árabes são uma das formas mais difíceis de se interpretar em selos do oriente médio, principalmente se estivermos estudando o período em que não haviam caracteres latinos impressos para fácil identificação da origem e data de sua emissão.

Um detalhe interessante nos selos da Turquia é a “tougra”, ou assinatura do sultanato. Trata-se de um estilo de caligrafia impossível de ser imitado, na época utilizado por pessoas importantes. Neste método, as primeiras letras da assinatura são particularmente maiores do que as outras, formando uma base, às vezes projetando as últimas letras do nome.

01Este método caligráfico muitas vezes “desenha” formas humanas, de animais ou plantas e coloca em seu interior uma assinatura ou uma mensagem. (fig.1)

O primeiro selo turco, de 1863 (Yvert 2, Scott 1) apresenta uma “tougra” simples utilizada apenas nesta série. Este é o símbolo do Sultão Mahmoud Khan, ou Mahmud II (1808-1839) que trocou as antigas instituições do Império Otomano por modelos importados do Ocidente e foi desenhado (caligrafado) em 1808 por Moustafá Raquim. (Fig. 2 e 3)

Em 1901, na série de selos para correspondência para o exterior, surge uma outra tougra” com o acréscimo de outra assinatura à sua direita (Fig 4). Esta assinatura à direita é do grande Sultão e Califa Abdülhamid, o El-Ghazi, o conquistador (Fig. 5), governando até 1909 e morto em 1918. Seu sucessor, Mehmet V (ou Mehmed V, ou Mohammed V, Fig 6) retira sua assinatura, voltando ao símbolo do califado e governando até 1918, sendo sucedido por Mehmet VI.

Assim em 1920 a série Yvert 617 a 625 utiliza os selos de 1913 e 1914 (Yvert 179-191 Fig.7) retorna com a utilização da primeira, aquela dos selos de 1863. É muito fácil confundir estes selos já que os desenhos, cores e valores são os mesmos, ficando a diferença apenas na tal assinatura do sultão.

07

08Em diversos selos reutilizados neste período é utilizada uma sobrecarga com a “tougra” sem a assinatura à direita de El-Ghazi. (Fig 8)

Interessante observar que o líder Mustafá Kemal, o Ataturk em 1917 (Fig. 9) cria um exército de resistência nacional, desembarcando na cidade de Samsum em 19 de maio de 1919. Cria um governo provisório, inclusive com aliados do próprio governo aumentando a oposição ao sultanato.

 

Em 1923 instala a República Turca, abolindo o regime de sultanato então vigente. Implanta o estado laico, permitindo apenas o poder espiritual com o califado. Em março de 1924 abole definitivamente o sultanato. O símbolo somente aparece novamente em uma série de “selos sobre selos” comemorando o centenário do selo turco (Yvert 1634-1637, Fig.10).

Este artigo nos mostra a dificuldade em se classificar os selos Turcos e a necessidade de compreendermos a história de qualquer país que nos aventuremos a colecionar. Além de encontrarmos esta diferença de assinatura dos selos citados, as “tougras” também mostram diferenças sutis na sua grafia. Pequenas modificações, imperceptíveis a olho nu revelam nestes selos muito de sua história indicando a assinatura do sultão daquela época. A dificuldade em se classificar os selos da Turquia torna esta coleção um desafio para o filatelista, dentro de uma parte fascinante da história da transição do Império Otomano para a moderna República da Turquia.

Bibliografia:
https://en.wikipedia.org/wiki/Tughra
http://en.wikipedia.org/wiki/Postage_stamps_and_postal_history_of_Turkey
Catálogo Yvert e Tellier, edição 1970 Tomo II Timbres d´Europe
Catálogo Scott, edição 2007

Evolução dos Selos da Turquia

Publicado no Boletim Filacap nº 166 ano 36 de maio de 2010

A Turquia é um país continental constituído por uma pequena parte europeia, a Trácia, e uma grande parte asiática, a Anatólia, sendo uma república democrática, secular e constitucional, com sistema político estabelecido em 1923 com o final do Império Otomano decretado com a derrota deste na Primeira Guerra Mundial.

O Império Otomano teve sua formação iniciada em 1299 quando o califa Osman I (em árabe: hutmãn, de onde vem o termo otomano) conquista parte da Anatólia e termina em 1922, quando perde na Primeira Guerra Mundial.

01
Yvert nº 1

O primeiro selo da Turquia surge em 1859, ou seja, ainda na fase de Império Otomano, para liberar cartas a bordo dos navios da marinha, com seus valores escritos à mão, emitidos na cor carmim. Em 1868 surge novo modelo para as cartas entregues à Companhia de Barcos a Vapor “Asia Minor Steam Ship Company”, de Smirna, cidade na costa do Mar Egeu, que em 1415 tornou-se parte do Império Otomano.

O selo número 1 e suas variedades (Yvert 1, 1A e 1B) emitidos

02
Variedades

com 9 anos de diferença e utilizados em navios diferentes contém caracteres ocidentais, no mínimo estranho para um Império cujo relacionamento com o mundo vinha de 500 anos de guerras e conquistas. A utilização foi feita em navios mercantes e eram selados no próprio navio ou entreposto comercial o que sugere que os selos eram emitidos e comercializados pelas empresas proprietárias dos navios. Estes selos aparecem no Catálogo Yvert, mas não são mencionados no Catálogo Scott.

Em 1863 surge um selo escrito em caracteres árabes, em diversos valores e cores, (Yvert 2 a 6), considerado por muitos filatelistas como realmente o primeiro selo do correio turco. Somente em 1876 surgem os primeiros selos com caracteres árabes e ocidentais (Yvert 44 a 49) com o nome do país (Emp.Otoman) e o valor e moeda. Existe, a partir deste momento uma miscelânea que ora coloca apenas o algarismo do valor e a moeda, ora o país e valor e moeda.

s-l500
Yvert nº 44A
03
Yvert nº 2

Em primeiro de novembro de 1922, a Grande Assembléia Nacional Turca aboliu o sultanato, pondo fim a 631 anos de domínio otomano. Em 1923 o Tratado de Lausanne reconheceu a soberania da nova República da Turquia. Mustafá Kemal Pacha, que seria conhecido como Kemal Ataturk (“pai dos turcos”) tornou-se seu primeiro presidente, instituindo grandes reformas políticas.

05
Yvert 687

O primeiro de centenas de selos com a efígie de Kemal Ataturk é o Yvert 687, de uma série de 8 valores, comemorando o acordo de paz com a Grécia. O selo mostra a imagem de Ataturk e a ponte de Sakaria. O Rio Sakaria é o terceiro maior rio da Turquia, com 824 km de extensão.

06
Yvert 662

A reforma em 1923 tornou a República Turca um estado laico, tornando livre o culto religioso e adotando o alfabeto ocidental. Mesmo assim, os primeiros selos da república, de 1923 (Yvert 662 a 667, Parlamento Turco em Ankara), contém somente caracteres árabes.

07
Yvert 670

Interessante notar que novamente o Catálogo Scott não faz menção a esta série, considerando como primeiro selo da República Turca o de número 668 do Yvert, uma série que vai de 668 a 686, emitida de 1923 a 1925. Os selos Yvert 662-667 constam no Catálogo Scott como sendo emitidos na Anatólia em 1922 (Turquia asiática).

Finalmente em 1929 surgem os primeiros selos obedecendo as reformas

08
Yvert 746

(Yvert 744 a 749 em diante), que exibem somente caracteres ocidentais: “Turkiye Cummuriyeti”, “Posta”, “Postalari”, e já trazendo a indicação nos selos comemorativos do seu motivo de emissão.

09
Yvert 749

As emissões a partir daí tornam-se regulares, com os selos servindo unicamente a seu propósito: portear cartas, com selos emitidos separadamente para o correio aéreo, o correio marítimo, selos beneficientes (Crescente Vermelho), selos de taxas, selos para jornais, blocos e folhinhas, etc., diferente do que acontecia anteriormente, quando os selos ganhavam diversas sobretaxas para mudarem de utilidade e serviço.

Bibliografia:
Catálogo Yvert e Tellier, edição 1970 Tomo II Timbres d´Europe
Catálogo Scott, edição 2007
Wikipedia.com – Têrmos: Turquia, Sakaria
Site http://www.sandafayre.com/Gallery/country_389_1.htm
História Postal da Turquia em: http://en.wikipedia.org/wiki/Postage_stamps_and_postal_history_of_Turkey