Uma compilação interessante e muito útil na hora de separarmos os selos ordinários do baú de coisas. Não vale a pena passar todos os selos na Benzina, medir denteação ou papel se os selos não tiverem algum valor para nossas coleções.
A coluna de valores está atualizada até 2015, o suficiente para sabermos quais selos devem ser expertizados. O que sobrar vira pacotaria ou presente para iniciantes (assim como nós já fomos e buscávamos desesperadamente completar uma série qualquer dos regulares).
O trabalho envolve as séries Vovó e Netinha. A série Bisneta tem um problema sério de classificação por cores aonde encontramos alguns problemas: nem todos enxergam as mesmas cores com a mesma intensidade, além de não termos um catálogo de cores comparativo.
Coleção apresentada em Americana em agosto de 2015 e na Expo-SPP em agosto de 2016.
Trata-se de coleção classe um quadro, apresentando uma resenha simples das doenças infecto-contagiosas e parasitárias sempre relacionadas a um médico pesquisador brasileiro, exceção feita a Louis Pasteur, químico e bacteriologista francês.
Após a introdução sobre a microbiologia a coleção faz um “passeio” por diversas doenças desta classe endêmicas no Brasil, através dos seus pesquisadores brasileiros. Varíola (já erradicada), Hanseníase, Malária, Chagas, Tipo, Tuberculose (que vem recrudescendo), Leishmaniose e terminando com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Coleção apresentada na Expo-SPP em julho de 2013 e na SPP novembro de 2013.
Li um artigo que dizia que colecionar é juntar coisas inúteis, catalogá-las e a seguir atribuir um valor a elas, de acordo com a raridade, a dificuldade em consegui-las e o tal do valor sentimental.
Esta coleção começou com “coisas” verdadeiramente tidas como inúteis, envelopes encontrados em lotes comprados, ganhos, enfim, peças que não se enquadravam em nenhuma coleção que eu faço, mas que não iam para o lixo por puro sentimentalismo. Até as coloquei numa caixa de sapatos vazia com um rótulo de “Peças Estranhas”…
Quando da EXPO-SPP de 2013 tentei apresentar novas coleções, diferente dos meus temas preferidos de História do Brasil lembrei-me do meu bau de coisas sem significado. Lembrei-me de tantas coisas inúteis que compramos, ganhamos e criamos.
As curiosidades foram montadas e, se na EXPO-SPP muito a custo consegui montar dois quadros, hoje já passam de cinco! Recebi a colaboração de vários colegas, passei a me interessar e procurar por peças em todos as feiras de filatelia, encontros de comerciantes, casas filatélicas, além dos sites de leilões da internet.
Apresentei a coleção com muito orgulho, consegui provar que colecionar é sentir o prazer de buscar, encontrar, organizar, catalogar e finalmente apresentar todo este trabalho aos colegas e amigos. Foi como recolher um vira-latas da rua e ver que você e ele se tornaram amigos inseparáveis, que ele, mesmo sem raça definida consegue transmitir boas coisas e novos desafios.
Enfim, esta é a minha coleção de “Curiosidades Postais e Filatélicas”.
Tenham um pouco de paciência para abrir o arquivo, afinal, são 105 folhas e cerca de 27 MB de tamanho.
Em 15 de setembro de 1989, o Correio espanhol apresentou dois distribuidores automáticos de selos para o tipo Frama. Instalados no escritório central de Madrid, estas máquinas distribuíam selos postais cujos valores variavam de 1 a 99 pesos.
Já em 1992 distribuidores do fabricante alemão Klussendorf foram instalados em diferentes locais de exposições ou eventos. O usuário tem a possibilidade de obter selos, de acordo com a taxa postal, de 17 a 245 pesos.
O texto foi extraído do Catálogo Yvert, ano 2012, selos da Europa, volume 2, que lista os selos de distribuidores até o ano de 2006.
Este álbum montado traz o local para o selo ATM com os valores catalogados pelo Yvert, o que torna mais difícil de completar a coleção. Na página 2-A coloquei dois selos não catalogados pelo Yvert.
Em 15 de setembro de 1989, o Correio espanhol apresentou dois distribuidores automáticos de selos para o tipo Frama. Instalados no escritório central de Madrid, estas máquinas distribuíam selos postais cujos valores variavam de 1 a 99 pesos.
Já em 1992 distribuidores do fabricante alemão Klussendorf foram instalados em diferentes locais de exposições ou eventos. O usuário tem a possibilidade de obter selos, de acordo com a taxa postal, de 17 a 245 pesos.
O texto foi extraído do Catálogo Yvert, ano 2012, selos da Europa, volume 2, que lista os selos de distribuidores até o ano de 2006.
Este álbum montado traz somente o selo-tipo, o que torna mais fácil completar a coleção. Na página 2-A coloquei dois selos não catalogados pelo Yvert.
Não conhecia a cidade de Americana e acabei indo mais a nível de passeio do que para uma exposição. Enganei-me, encontrei amigos e fiz amigos, vi coleções que me presentearam com conhecimento, alimentaram minha curiosidade, mostraram-me coisas novas com idéias novas. Americana, para mim, bastou ser o Shopping Welcome Center, não precisei de mais nada. Ali, naquele espaço estavamamigos, selos, minha esposa, boa conversa.
Magnífica e genial a idéia do Sr. Frederico Guerra, presidente da Sofia, Sociedade de Filatelia de Americana, de trazer a juventude para a Exposição. Renasci, renascemos, a iniciativa tirou o cheiro de armário que impregnava as exposições, trocando-o por idéias novas, gente nova, coleções novas. Americana deixou de ser uma exposição aonde velhos expõe coisas velhas, mas tornou-se o estopim que a infância e a juventude necessitavam para conhecer este papelzinho chamado selo.
Mostrou a todos estes jovens que participaram, e que, por terem sido voluntariamente recrutados em escolas, a maravilhosa arte da filatelia. Mostrou que este hobby não se restringe ao selo, mas ao envelope, a folhinha, ao cartão postal. Ainda mais: que não existe filatelia sem estudo ou conhecimetno daquilo que se coleciona.
Americana foi uma aula de história, geografia, aviação, zoologia, música e muito mais, tal a criatividade exibida pela ala jovem. Se de um lado, nós veteranos de filatelia expusemos coleções refinadas e até de alto custo, por outro nos encontramos novamente crianças iniciando novas coleções.
Qual de nós não se lembrou do nosso primeiro encontro com a filatelia há dezenas de anos atrás? Como foi nossa primeira folha de selos, nosso álbum, como nos expertizamos e passamos a criar coleções de alto nível? Começamos alí, com um tio velho ou um avô nos ensinando esta arte. Nossa obrigação? Ensinar, orientar, trazer o jovem para a filatelia, agir com verdadeiro espírito fraternal.
Não acredito que a Exposição de Americana tenha sido competitiva. Lógico que não é a opinião dos jurados. Acredito que todos ganharam, os jovens e nós, os velhos filatelistas. Eles, por se aventurarem em sua primeira coleção, nós, por termos a humildade de admirar seus trabalhos de iniciantes e dar-lhes uma injeção de ânimo.
Jovens filatelistas, bem-vindos ao nosso mundo! Permitam que possamos partilhar novas idéias, novos rumos, novas e muitas coleções!
Benvindos à Filatelia!
Dr.Roberto Aniche e esposa
Matéria publicada no
Boletim no 208 de Agosto de 2010
da Sociedade Philatélica Paulista
Filho de mãe brasileira e pai português, nascido em 4 de janeiro de 1892, Manoel Dias de Abreu (fig.1) conseguiu ser aprovado na Faculdade de Direito de São Paulo aos 13 anos, mas não pode se matricular pela pouca idade que tinha. Enviado à Europa para ter aulas particulares, regressou ao Brasil em 1908, entrando na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se em 1913.
Apresentou, na época, a tese de doutorado baseada na influência do clina tropical sobre a civilização intitulada Natureza Pobre em julho de 2014.
Em 1914 inicia-se a Primeira Guerra Mundial e o médico e sua família estavam em Portugal e não puderam retornar. Muda-se para Paris aonde mora por oito anos, lá tendo contato com filósofos, escritores e cientistas como Baudelaire (fig.2), Antero de Quental (fig.3), Nietzsche (fig.4) e Darwin (fig.5), decidindo seguir o caminho da ciência.
Inicia seu trabalho no Nouvel Hôpital de La Pitiê em Paris, responsável por fotografar peças cirúrgicas, construindo um engenhoso dispositivo para fotografar a mucosa gástrica. No ano seguinte passa para o Hôtel-Dieu (fig.6), hospital mais antigo da cidade, trabalhando e pesquisando os Raios-X, criada por Roentgen, físico alemão em 1895 (fig.7), assumindo a chefia do Laboratório Central de Radiologia.
No hospital Laennec especializa-se em radiologia pulmonar desenvolvendo a técnica da
Roentgen, criador do RX
densimetria, ou a mensuração de diferentes densidades radiográficas no tórax. Em 1921 publica o livro “Radiodiagnostic dans la tuberculose pleuro-pulmonare” (Editora Masson, Paris) aonde mostra a convicção de que o controle da tuberculose deveria passar por diagnóstico em massa da população.
Ao retornar ao Rio de Janeiro em 1922 a cidade estava assolada por uma epidemia de tuberculose que o impressionou a ponto de declarar: “Havia óbitos, não havia doentes, os quais ocultavam seu diagnóstico na espêssa massa da população; os poucos doentes que havia, procuravam o dispensário na fase final da doença, quando o tratamento, o isolamento e as várias medidas profiláticas já eram inúteis”
Criou anexo ao Dispensário de Tuberculose do Rio de Janeiro o primeiro Serviço de Radiologia para o diagnóstico da tuberculose. Assume o serviço de radiologia do Hospital Jesus e desenvolve a Fluorografia em 1936, com imagens nítidas o suficiente para diagnosticar a tuberculose. Produz, com um aparelho construido pela Casa Lohner, filial da fábrica Siemens (fig.8), no Rio de Janeiro, o primeiro Serviço de Cadastro Toráxico, provando a precisão do método no diagnóstico da tuberculose.
Durante o ano de 1938, três Serviços de Recenseamento Torácico foram criados em São Paulo: no Instituto Clemente Ferreira, no Hospital Municipal e no Instituto de Higiene. Outras cidades do Brasil, da América do Sul, Estados Unidos e Europa também adotaram a fluorografia como instrumento na luta contra a epidemia de tuberculose.
O Dr. Ary Miranda, presidente do I Congresso Nacional de Tuberculose realizado em maio de 1939, propôs que fosse utilizado o nome abreugrafia para designar o método criado por Manuel de Abreu. Anos depois, em 1958, o prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, determinou que as repartições públicas da Prefeitura deveriam obrigatoriamente usar o termo abreugrafia e instituiu o dia 4 de janeiro, dia do nascimento de Manoel de Abreu, como o Dia da Abreugrafia, imitando o gesto do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira (figs.9, 10 e 11).
Com o intuito de diminuir o número de casos sem diagnóstico baciloscópico, nos brindou com a pesquisa do bacilo de Koch no lavado pulmonar ou lavado traqueobroncoalveolar. O primeiro lavado foi realizado em 17 de agosto de 1944 no Hospital São Sebastião.
A Abreugrafia popularizou-se como método de diagnóstico de massas de baixo custo e de fácil execução. Em localidades com tuberculose endêmica a abreugrafia era feita gratuitamente beneficiando a população fig.12). Com a evolução da tecnologia foram criados equipamentos móveis, que percorriam fábricas e escolas fazendo os exames de funcionários e alunos (fig.13). Com a diminuição dos casos e dos custos com outros equipamentos, a abreugrafia foi abandonada, mas sem jamais esquecermos o pioneiro que foi Manoel de Abreu.
A invenção de Manoel de Abreu foi responsável pela maior revolução no campo de diagnóstico precoce das doenças do tórax, principalmente a tuberculose e o câncer de pulmão. O método desenvolvido pelo médico era muito eficaz e permitia a realização de um grande número de exames em um curto espaço de tempo. A invenção de Abreu possibilitou o rastreamento da tuberculose, de tumores e doenças pulmonares ocupacionais (associadas ao trabalho). O seu custo operacional reduzido e sua alta eficiência proporcionaram a difusão mundial do método. Foram criadas unidades móveis com aparelhos de abreugrafia instalados em veículos, que realizavam as radiografias torácicas em locais públicos e em grandes indústrias. Na Alemanha, até o ano de 1938 o número de exames feitos já ultrapassava os 500 mil.
A importância de sua obra rendeu-lhe inúmeras homenagens no Brasil e no Exterior, como Cavaleiro da Legião de Honra da França, medalha de ouro do Médico do Ano em 1950 do Colégio Americano de Médicos do Tórax, bem como conduziu à criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e à publicação da “Revista Brasileira de Abreugrafia”.
Manoel de Abreu foi poeta, atividade pouco conhecida. Escreveu os livros de poesias “Substâncias” (fig.14) com ilustrações de Di Cavalcanti (fig.14); “Poemas sem Realidade”, ilustrado por ele e “Meditações”, ilustrado por Portinari (fig.15).
Manoel de Abreu foi indicado cinco vezes indicado para o Prêmio Nobel de Medicina. Seus trabalhos e pesquisas levaram ao controle da doença no mundo, ao diagnóstico e tratamento precoces, a intervenções importantes no controle da saúde pública.
Fumante inveterado, faleceu de câncer de pulmão em 30 de abril de 1962 deixando ao mundo um legado de trabalho, dedicação e amor ao próximo, exemplo a ser sempre lembrado e seguido pelas novas gerações de médicos do planeta.
Manuel de Abreu foi responsável por evitar milhões de mortos por tuberculose no mundo inteiro, graças ao seu espírito incansável em prol da medicina. Lamentavelmente nenhum país do mundo, incluindo neste rol o Brasil, sua terra natal, emitiu selos em sua homenagem. No catálogo Zioni encontramos dois carimbos, um em 1974 (Zioni 2001) e outro em 1976 (Zioni 2406) em sua homenagem, contra quatro carimbos sobre a tuberculose respectivamente em 1953 (Zioni 389, fig.17), em 1963 (Zioni 951, fig.18), em 1999 (Zioni 6569, fig.19) e em 2002 (Zioni 7614, fig.20), todos enfatizando a luta contra a doença.
Manoel de Abreu, um humanista generoso, abriu mão da patente que lhe garantiria lucros sobre a venda dos aparelhos, pois desejava que seu processo diagnóstico estivesse disponível para um número maior de pessoas: “Eu vejo no horizonte a única porta aberta para o futuro, a da ciência (…) A ciência é de algum modo a única forma de ternura (…) As grandes descobertas da medicina foram realizadas por seres sonhadores, sublimes, inspirados pelo amor”.
Matéria publicada no Boletim Filacap, ano 41, Edição Especial, de agosto de 2015
Não há como falar de Imprensa Espírita no Brasil sem antes discorrermos sobre a entrada no Kardecismo em nosso país. O Brasil oitocentista, imperial, católico por conviccção e por lei, com economia nitidamente ruralista começava a sentir os efeitos das mudanças sociais, filosóficas e políticas nascentes na Europa.
Quadra com carimbo comemorativo ao Centenário de Augusto Comte
As ideias novas, trazidas pelo Positivismo de Augusto Comte, (fig.1) mostravam um Brasil atrasado em relação aos ideais da Revolução Francesa terminada mais de um século antes, em 1799. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, lema que derrubou a Monarquia Absolutista, os privilégios feudais e aristocráticos estavam longe de aportarem em nossa terra.
As ideias trazidas da Europa, notadamente Paris, pela emergente aristocracia brasileira surgida com a independência do Brasil e principalmente no Segundo Reinado, para uma sociedade ambiciosa de curiosidade (e de mudanças?) aponta para todos os lados: sociais, políticos, filosóficos e religiosos.
O Kardecismo, doutrina codificada por Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail, Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869) traz uma série de orientações vindas dos espíritos, não como religião ou concorrente de qualquer uma delas, mas como estudo filosófico, científico e também religioso baseado nos Evangelhos Cristãos. Circulado na França a Revista Espírita (periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de janeiro de 1858 a 1869 por Allan Kardec atua como divulgador da doutrina e das pesquisas feitas nesta área (fig.2).
Afirma-se que a história do espiritismo no Brasil remonta ao ano de 1845 quando, no então distrito de Mata de São João, na então Província da Bahia, teriam sido registradas as primeiras manifestações. De acordo com Divaldo Pereira Franco o ano teria sido 1849, tendo se caracterizado por um confronto entre elementos da Igreja Católica e espíritas, com a interveniência de força policial. O fenômeno das mesas girantes foi noticiado pela primeira vez no país pelo jornal “O Cearense” em 1853.
Nomes de relevo também se opuseram ao espiritismo no Brasil, dentre eles podemos citar Olavo Bilac (fig.3) e Machado de Assis (fig.4) . Ambos repudiavam a doutrina como sendo
Olavo Bilac
portadoras de teses absurdas, sem fundamentação plausível. Somadas às condições adversas, o estudo dos textos básicos do espiritismo era circunscrito aos homens letrados, muitos deles oriundos de famílias ilustres, que tinha na França o destino preferido para a formação estudantil, aproximando-os do que havia de mais inovador, tanto em termos religiosos, como científicos. Os filhos da elite agrária que cresceram no âmbito rural
Machado de Assis
e na mocidade se mudaram para cidades cresceu acentuadamente na segunda metade do século XIX. Eles buscavam o contato com as concepções modernizantes importadas da Europa, deixando para trás o ambiente rural que ainda era presente.
Para termos dimensão das contendas entre Igreja Católica e Kardecismo, podemos citar dois acontecimentos marcantes. O primeiro deles é a carta que foi enviada ao Arcebispo da Bahia, D. Manuel Joaquim da Silveira, por Manoel da Silva Pereira, ex-major do exército. A carta criticava os ensinamentos espíritas que estavam sendo publicados pelo jornalista baiano, Luiz Olympio Telles de Menezes (fig.5) em Salvador. A segunda contenda foi estabelecida pelo Padre Juliano José de Miranda, da província da Bahia, o qual escreveu para o próprio Telles de Menezes, mostrando sua contrariedade aos princípios doutrinários do espiritismo.
Como forma de rebater as críticas, Telles de Menezes, pioneiro nas publicações espíritas, respondeu criando o jornal O Écho d’Além Túmulo (fig.6), periódico que iniciou suas atividades em 1869 e visava defender “[…] a verdadeira ciência, capaz de aproximar o homem de Deus” (Ó Écho D’além Túmulo, jul. 1869, n. 1, p. 1).
O primeiro jornal espírita impresso e publicado no Brasil foi O Écho d’Além Túmulo: monitor do Spiritismo no Brasil (fig.6) . Datado de 1869, o jornal era impresso na Tipografia do Diário da Bahia, em Salvador. As “Condições d’a assignatura” eram especificadas na página do próprio jornal, na qual se podia ler que “O Echo d’Além Túmulo apparece, bimestralmente, em um folheto, in-8, contendo 50 páginas de impressão […] o pagamento deve ser sempre adiantado, para não haver interrupção na entrega”.
O Écho d’Além Túmulo circulou até março de 1870, contudo deixou para a imprensa espírita brasileira o legado de ter sido o pioneiro de um tipo de editoração que assumiria
proporções expressivas, estendendo-se até nossos dias.
A seguir temos a comentar “A Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Christo e Caridade” que pretendia ser o órgão oficial de divulgação dos “estudos e trabalhos” realizados em seu âmbito, bem como reunir outras entidades espíritas do período. Além disso, o periódico divulgava as decisões administrativas da organização que a idealizou. No frontispício do primeiro número publicado constava a seguinte informação:
“A Revista, órgão official da Sociedade, redigida por sua Directoria, tem por fim preencher as vistas sociais, levando aos seus Membros o conhecimento das resoluções e deliberações administrativas e transmittindo o resultado dos estudos e trabalhos da Academia Spiritia de Sciencias. Será distribuída nos círculos ate o ultimo dia do mez (Revista da Sociedade…, jan. 1881, front.).”
A circulação do periódico era mensal e o último número do periódico ocorreu em de julho de 1882, quando a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, sua mantenedora, vivenciava uma crise por falta de adeptos, que requeriam outra instituição menos restrita e que pudessem representar todos os Espíritas, dando abertura para a Federação Espírita Brasileira, consolidada em 1884.
Em reunião promovida por Elias da Silva, a 1 de janeiro de 1884, fundou-se a Federação Espírita Brasileira. No dia seguinte (2 de janeiro) foi eleita e empossada a sua primeira Diretoria, A instituição ficou inicialmente sediada na própria residência de Elias da Silva, o sobrado à rua da Carioca, 120.
Nos seus anos iniciais, a FEB (fig.7, Zioni 3814) vivenciou diversas dificuldades quer de ordem administrativo-financeira quer ideológica no plano interno, e as turbulências políticas e sociais da Capital do país no plano externo. Como exemplo das primeiras, registrava-se uma cisão no movimento, entre os chamados “laicos” ou “científicos”, liderados pelo professor Afonso Angeli Torteroli; e os “místicos”, liderados por Bezerra de Menezes. Como exemplo das segundas, após a Abolição da Escravatura (1888) sucedeu-se a Proclamação da República Brasileira (1889) e as comoções vividas pela República da Espada, entre as quais a Segunda Revolta da Armada (1893). Tais circunstâncias resultaram no abandono da FEB por grande parte dos seus membros iniciais, deixando a sobrevivência da instituição a cargo de alguns poucos colaboradores.
Em 1889, o médico Dr. Adolfo Bezerra de Menezes (fig.8, Zioni 3560) assume à frente da instituição, instituindo o estudo sistematizado de O Livro dos Espíritos nas reuniões públicas realizadas no salão da Federação. Em 1890 foi instituído o “Serviço de Assistência aos Necessitados”, importante base para a atuação dos médiuns receitistas na instituição. Bezerra foi sucedido no início de 1895 por Júlio César Leal. Vindo este a renunciar após sete meses de gestão, Bezerra aceitou ser reconduzido, reassumindo a Presidência da Federação a 3 de agosto de 1895, cargo que exerceu até à sua morte em 1900. Durante este mandato, foi inaugurada a livraria da FEB (31 de março de 1897), responsável pela edição, distribuição e divulgação da literatura espírita.
Em 1932, a FEB publicou o seu primeiro grande sucesso editorial: o “Parnaso de Além-Túmulo”, que alcançou grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública brasileira. O formato da obra não era novo: seguia os moldes de outra obra cujos direitos a instituição já possuía – Do País da Luz (4 vol.) -, coletânea de mensagens (textos, cartas e poemas) majoritariamente de autores renomados da literatura portuguesa, desencarnados, recebidos na primeira década do século XX pelo médium português Fernando de Lacerda. A autoria dos textos no Parnaso, recebidos pela mediunidade psicográfica do então jovem Francisco Cândido Xavier era predominantemente de figuras da literatura brasileira.
Às vésperas da implantação do Estado Novo, em 1937, no dia 27 de outubro, as dependências da FEB foram fechadas pela polícia, vindo as suas portas a ser reabertas três dias mais tarde, por determinação do Dr. Macedo Soares, então Ministro da Justiça.
O período seria marcado, ainda, pela abertura, em 1944, do famoso processo movido pela viúva do escritor Humberto de Campos contra a FEB e Francisco Cândido Xavier (fig.9), visando receber direitos autorais pretendidos sobre as mensagens psicografadas supostamente atribuídas ao seu finado marido. A partir de então, a entidade passaria a se utilizar do pseudônimo “Irmão X”.
Neste ponto que chegamos, o Kardecismo é uma doutrina atuante no Brasil, assim como diversos cultos Cristãos; o país se tornou, com sua legislação atualizada, tolerante com todos as religiões e vertentes filosóficas e sociais, numa tentativa de, após mais de dois séculos, absorver os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa.
Bibliografia: IMPRENSA ESPÍRITA E ELITE LETRADA NO BRASIL OITOCENTISTA, 2013 Alessandro Santos da Rocha, Universidade Estadual de Maringá – UEM Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, Universidade Estadual de Maringá – UEM Intelectuais, Espíritas e Abolição da Escravidão: Os Projetos de Reforma na Imprensa Espírita 1867-1888) Daniel Simões do Valle, Universidade Federal Fluminense, Defesa de Tese de Mestrado, 2010 www.girafamania.com.br http://www.wikipedia.org
Existe um envelope comemorativo do XXX Aniversário do Martírio dos Padres João Fuchs e Pedro Sacilotti por conta do carimbo Zioni nº 1009 emitido em São Paulo de 1º a 7 de novembro de 1964. Martírio significa grande sofrimento, suplício de martir, aflição.
O Padre João Fuchs nasceu no Cantão de Lucerna, na Suiça Alemã em 1880 e pouco se sabe de sua infância, a não ser um sentimento católico grande na família. Em 1901 fez o noviciato em Lombriasco, Itália vindo para Mato Grosso trabalhar em colégios como professor de ciências físicas e naturais. Retornou à Itália para tratamento de saúde e volta como missionário outra vez em Mato Grosso. Atendeu aos índios Bororós e a filhos de colonos na arte de ensinar, além da assistência religiosa aos garimpeiros.
Naquêle biênio de 1933 e 1934 a grande ânsia de Pe. Fuchs e de Pe. Sacilotti era encontrar os Xavantes que fugiam do encontro com os civilizados, procurá-los representava também o perigo da morte.
Padre Pedro Sacilotti nasceu São Paulo, em 1898, brasileiro descendente de família italiana de Veneza. Iniciou os estudos religiosas no Aspirantado de Lavrinhas e após foi enviado a Turim onde se ordenou padre em 1925.
Ambos os padres eram da Congregação Salesiana, uma Congregação religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana fundada em 1859 por São João Bosco e aprovada em 1874 pelo Papa Pio IX. Seu nome oficial é Pia Sociedade de São Francisco de Sales em homenagem a São Francisco de Sales, contudo, são popularmente conhecidos por salesianos de Dom Bosco.
O principal foco da missão salesiana são os jovens, especialmente os pobres e em situação de risco. Em vista disso os salesianos trabalham também nos ambientes populares, com atenção aos leigos evangelizadores, à família, à comunicação social, e entre os povos ainda não evangelizados. A congregação é composta por irmãos de vida consagrada, que fazem votos simples de castidade, pobreza e obediência podendo optar também pelo sacerdócio. Entre as obras da Congregação salesiana pode-se citar os colégios e serviços beneficentes, espalhados por várias partes do mundo.
Os índios Xavantes estavam espalhados ao longo do Rio das Mortes, afluente esquerdo do Rio Araguaia em aldeias espalhadas entre o primeiro e o rio Koluene (maior braço formador do Xingu).
Em 1932 o Padre Fuchs obteve de seus superiores a licença de estudar e preparar um plano de penetração na selva e encontrar os Xavantes. Da cidade de Rio Conceição em canoa, enfrentando a subida do Rio Araguaia penetrou no Rio das Mortes até o barranco dos Xavantes. Ergueu ali um grande cruzeiro de cinco metros de altura e tomou posse em nome de Deus. Desciam o Araguaia, após o Padre Fuchs, o Padre Sacilotti com tres familiares para o encontrarem na localidade de Cocalinho.
Em 4 de agosto de 1932 os dois padres e sua comitiva acamparam no Rio Cristalino, rio paralelo entre o Rio das Mortes e o Araguaia, seguindo a Santa Terezinha, aonde levantaram outro cruzeiro e rezaram uma missa, porém ainda sem avistar nenhum Xavante. Retornaram a Araguaiana.
Até 1933 o Padre o Padre Fuchs tinha percorrido milhares de quilometros e queria realizar o contato com os Xavantes antes da data de canonização de Dom Bosco. Com esse intuito foi a Belém do Pará adquirir uma lancha a motor (batizada de Maria Auxiliadora). A onda de azar (se é que assim se pode chamar) começou com a viagem de volta ao Rio das Mortes. Em São Benedito numa manobra inadvertida, a lancha entrou num redemoinho, virou e bateu contra pedras, sendo danificada.
A 25 de junho, na sequencia da viagem, aparecem as doenças tropicais. Chegando na cidade de Conceição foi hóspede dos Padres Dominicanos para tratamento e descanço. Em 16 de agosto retoma viagem e chega no dia 27 ao Rio das Mortes. Em Santa Terezinha reencontra-se com o Padre Pedro Sacilotti.
Explorando o rio, na localidade de Mato Verde, em frente a Ilha do Bananal construiram um rancho e em 3 de dezembro foi inaugurada a nova missão de São Francisco Xavier, assistindo à Missa um grupo de índios Carajás.
Em 24 de março de 1934 voltaram a navegar no rio das Mortes. Na baia de São João Bosco encontraram o cruzeiro derrubado e o levantaram. Encontraram ranchos abandonados e dormiram alí. No dia seguinte rezaram a Missa e continuaram.
Injustiça seria esquecer de José Pellegrino, nascido em Benevagienna, Itália em 1880. Veio ao Brasil com uma comitiva para Mato Grosso, trabalhando em várias casas e sendo designado cozinheiro em Araguaiana. Pessoa alegre, mas franzina e com defeito nos pés acompanhava os Padres nesta última empreitada, e se não foi vítima dos Xavantes, foi do próprio Rio das Mortes.
Em 1º de novembro de 1934 avistaram dois índios Xavantes num barranco. Os padres e o índio bororó Luis, piloto da lancha, Militão Soares, de Cocalinho, o garimpeiro holandês João Schiller e Serafim Marques, de Araguaiana aproximaram-se deles e o Padre Pedro falou-lhes em carajá, mas recebendo resposta ameaçadora. Os padres pediram que os tres integrantes da comitiva buscassem presentes no acampamento. Em seguida apenas se ouviu o Padre Pedro Sacilotti gritar: “Os Xavantes atacam!”. Havia cerca de cinquenta Xavantes escondidos nas folhagens da mata.
Todos fugiram desabaladamente , mas os dois padres enfrentaram o suplício. No dia seguinte a comitiva fez uma busca e encontrou os dois cadáveres a cerca de 500 metros do barranco, ambos com o cranio fraturado. Transportados para a margem, foram enterrados na beira do rio. Meses depois os restos mortais foram transportados para Araguaiana no cemitério que já acolhia os despojos de Pellegrino.