O Espiritismo na Filatelia Brasileira – 1ª parte – Allan Kardec

Fig 1 - Allan KardecHippolyte Léon Denizard Rivail, (Lyon, 1804 — Paris, 1869), educador influente, autor de diversos livros, poliglota ((falava francês, alemão, italiano, holandes e espanhol), com estudos na Suiça e na Alemanha, bacharelando-se em Ciências e Letras e formando-se em Medicina, foi o codificador da Doutrina Espírita sob o pseudônimo de Allan Kardec (fig.1).

Foi discípulo do reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos que antes costumavam ser considerados inadequados para uma investigação do tipo. Adotou o seu pseudônimo para uma diferenciação da Codificação Espírita em relação aos seus anteriores trabalhos pedagógicos.

Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência em Paris, cursos gratuitos de Química, Matemática, Física, Anatomia comparada, Fisiologia, Astronomia, Francês e Retórica e outros. Nesse período, preocupado com a didática, elaborou um manual de aritmética, (adotado por décadas nas escolas francesas), e um quadro mnemônico da História da França, que visou facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.

A Obra da Codificação Espírita

Conforme o seu próprio depoimento publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das “mesas girantes”, bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal do qual era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais fenômenos se produziam.

Durante este período, tomou conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica – ou psicografia, e assim passou a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido como um “espírito familiar”, passa a orientar os seus trabalhos e lhe informa que já o conhecia do tempo das Gálias, com o nome de Allan Kardec. Assim, Rivail passa a adotar este pseudônimo, sob o qual publicou as obras que sintetizam a Doutrina Espírita.

Kardec integra toda uma estrutura de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científicos, filosóficos e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do homem.

Iniciou a publicação das obras de Codificação em 18 de abril de 1857, com o Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo. Lança em seguida a Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundando nesse mesmo ano uma primeira sociedade espírita regularmente constituída com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

A Codificação Espírita compreende cinco livros, ou um pentateuco: Livro dos Espíritos, A Gênese, Céu e Inferno, Livro dos Médiuns e Evangelho segundo o Espiritismo. Há um sexto livro de Kardec lançado após a sua morte, o Obras Póstumas.

Selos Brasileiros sobre o Espiritismo

C-387 – Centenário da Codificação Espírita, Selo da Codificação

EPSON scanner ImageO primeiro selo comemorativo sobre o Espiritismo no Brasil foi lançado em 18 de abril de 1957, o C-387, na cor marrom, comemorando o Centenário da Codificação do Espiritismo e carimbo comemorativo (Zioni 579, RJ). Este é o 1º selo sobre Espiritismo no mundo, graças à iniciativa e ao exaustivo trabalho da Federação Espírita Brasileira (FEB), na presidência de Antônio Wantuil de Freitas.

A revista “O Cruzeiro” datada de 05/01/1957, antecedeu mais de três meses (104 dias) ao lançamento do selo. Ela apresentava em primeira mão, tanto na edição portuguesa como na castelhana, na página 81 em sua seção “Filatelia”, o desenho-prova do primeiro selo espírita, através da matéria de Armando Paiva (transcrita abaixo):

Fig 3 - Revista-Cruzeiro

“Selo Comemorativo do 1.º Centenário da Codificação do Espiritismo – A revista O CRUZEIRO, em primeira mão, apresenta o desenho do selo comemorativo da Codificação do Espiritismo. Inúmeros selos comemorativos católicos e alguns protestantes já foram emitidos pelo D.C.T., e em princípios de 1957 teremos um sêlo espírita. É essa, realmente, mais uma demonstração inequívoca do alto espírito de liberdade e igualdade religiosa de que se orgulha o Brasil.”

C-511 – Centenário da Codificação Espírita, Selo do Evangelho

Allan KardecEm 14 de junho de 1963 Antônio Wantuil de Freitas, Presidente da FEB, dava entrada nos Correios de um bem justificado requerimento, solicitando a emissão do segundo selo postal espírita, a que mais tarde chamariam simplesmente o “Selo do Evangelho”.

O selo é lançado pela ECT em 18 de abril de 1964 na cor verde e apresenta a figura de Allan Kardec e sua assinatura, e a inscrição “O Evangelho da Codificação Espírita – 1864-1964”  e carimbos comemorativos (Zioni 969A RJ, GB e 969B SP, SP)

C-631 – Centenário da Morte de Allan Kardec, Selo da Desencarnação

Fig 5 C-631Em 1869, por ocasião do centenário do desencarne de Kardec, novamente o Departamento de Correios do Ministério das Comunicações, através de seu Diretor Geral, General Rubens Rosado Teixeira, adere aos festejos espíritas editando o selo e o carimbo relativos à data da desencarnação do Codificador (Zioni 1411).

O selo mostra a efígie do espírita e a sua tumba no plano de fundo prestando homenagem ao falecimento de Allan Kardec, ocorrido cem anos antes em Paris. No lado esquerdo, o selo apresenta a imagem do túmulo de Kardec, no cemitério Père-Lachaise, em Paris.

Existem duas clássicas variedades citadas no Catálogo RHM: o selo sem a cor verde (RHM C-631A) e o selo sem o sépia ou ocre (RHM C-631B).


C-640 – Centenário da Imprensa Espírita

O selo PRIMEIRO CENTENÁRIO DA IMPRENSA ESPÍRITA NO BRASIL presta homenagem ao baiano Luís Olímpio Teles de Menezes – fundador do primeiro jornal espírita brasileiro, em 1869, na cidade de Salvador: “O Eco de Além-Túmulo” , originalmente intitulado “O ÉCHO D’ALÉM-TÚMULO”.

Fig 8 O Echo D_Além-Túmulo

“Vários layouts do selo foram ideados pelo ilustre artista Sr. Bernardino da Silva Lancetta. Apreciados em janeiro de 1968, a escolha recaiu naquele que, pela simplicidade e nobreza da concepção, melhor representava o motivo em pauta, ou seja, os 100 anos da imprensa espírita em nossa Pátria.” (Texto extraído da Revista Reformador, de julho/1969 – FEB.)

O selo C-640 foi emitido em 26 de julho de 1969 com carimbo comemorativo Zioni 1439A Porto Alegre, 1439B Rio de Janeiro, 1439C Salvador e 1439D São Paulo

Fig 9 FDC Imprensa Espírita

C-2597 – Bicentenário de Nascimento de Allan Kardec

O selo presta homenagem a encarnação (nascimento) de Allan Kardec ocorrida duzentos anos antes, na rua Sale, 76 em Lyon – França, em 03 de outubro de 1804, fundador da Doutrina Espírita.

Fig 10 C-2597Este selo apresenta a logomarca internacionalmente utilizada nas comemorações do Bicentenário, a qual focaliza um busto em cobre, localizado no túmulo de Kardec, e a cepa da videira, elemento presente em sua obra, cuja nobreza é representada pela faixa amarela dourada que contorna a efígie. À esquerda, e na parte inferior, as cores verde e amarelo, tendo sobreposta a assinatura de Allan Kardec, simbolizam o Brasil, onde o Espiritismo criou as mais profundas raízes. O lema “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” foi a bandeira que conduziu sua vida.

O selo C-2597 foi emitido em 3 de outubro de 2004 e carimbo comemorativo Zioni-7916 de Brasília, DF. Às 16 horas do dia 5 de outubro se realizou no 4º Congresso Espírita Mundial, na França, o ato simbólico de lançamento do selo emitido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em homenagem a Allan Kardec. O Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira, Altivo Ferreira, presidiu a solenidade. Além do selo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos criou um carimbo especial do 4º Congresso Espírita Mundial Zioni 7914, Paris, França).

O lançamento oficial desse Selo Comemorativo foi realizado simultaneamente em Brasília (11 horas – hora local), também pelos Correios do Brasil. Realizou-se, desta forma, um lançamento bi-nacional do Selo.

Carimbos Comemorativos

Fig 11 - Carimbos Zioni

Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Allan_Kardec
http://nucleoespiritaverbodeluz.blogspot.com.br/2011/06/filatelia-allan-kardec.html
http://www.ebay.com
Catálogo Zioni
Catálogo RHM 2010

Artigo publicado no Boletim da SPP nº 226 de Agosto de 2016

Convênio SPP-Instituto Presbiteriano Mackenzie: A Experiencia da Sociedade Philatélica Paulista no Ensino da Filatelia

Matéria publicada no Boletim Filacap ano 43 nº 193 de dezembro de 2017 e no Boletim da SPP nº 230 de dezembro de 2017

Em 5 de julho de 2014 a SPP, Sociedade Philatélica Paulista celebrou em solenidade, com o Instituto Presbiteriano Mackenzie um acordo de colaboração mútua através da divulgação da filatelia como meio cultural e fonte inesgotável de pesquisa. Assinaram este convênio o Sr.Reinaldo Basile Junior, então Presidente da SPP e o Dr.Mauricio Melo Meneses, à época Presidente daquela Instituição.

Se por um lado tínhamos a ideia de incentivarmos a formação de jovens filatelistas, por outro deveríamos enfocar a filatelia como elemento de estruturação cultural para que estes alunos aprendessem, pela pesquisa, a mensagem que cada selo pode transmitir.

A tarefa exigia mais do que apenas filatelia, mas um conhecimento em didática expositiva, preparação de aulas simples de assuntos complexos, que prendessem a atenção e incentivassem os alunos a criarem a paixão pelo selo. Contar a história do Penny Black, o primeiro selo do mundo não é tarefa simples quando as crianças e jovens de hoje convivem com tecnologias modernas e que mudam a cada dia. Transformar a história do Penny Black em um episódio apaixonante da civilização já é um desafio. Que dizer então da história do selo mais feio do mundo, o Olho-de-boi, autorizado pelo Imperador Pedro II?

Aprendemos, a duras penas e muitas reuniões e experiências em como lidar com estas novas situações. E hoje estamos felizes: criamos uma cultura filatélica em classes de alunos do primeiro grau.

  • Iniciando as Apresentações com os Pais, Professores e Alunos

Nosso diretor Miguel Rodrigues de Magalhães fez uma apresentação de sua coleção Colaboração e Resistência na II Guerra Mundial, no grande auditório do Mackenzie mostrando o quanto a filatelia nos obriga a pesquisar sobre o que dizem os selos, envelopes e outras peças filatélicas sobre um determinado assunto. Até conhecer a coleção, nós, da SPP e muitos outros pouco sabíamos sobre este episódio da História Mundial, que aos jovens parecer ter ocorrido na pré-história, mas que ainda trazem marcas profundas em muitas famílias e povos.

Miguel Rodrigues de Magalhães inovou: a apresentação em data-show mostrou não só a sua coleção, mas fotografias, mapas e pequenos vídeos; prendeu a atenção de uma plateia de mais de duzentas pessoas!

Em outra apresentação, já somente para professores do Mackenzie Consolação, nosso diretor Roberto Aniche fez uma apresentação de sua coleção Escravidão no Brasil, também em data-show, apresentando aspectos históricos, filosóficos, geográficos sobre este os trezentos anos deste episódio, incluindo a leitura de uma poesia de Euclides da Cunha que choca pela crueldade da cena que descreve.

  • O Início

O grupo de trabalho de campo foi composto pelo presidente da SPP, Sr. Reinaldo Basile Junior e pelos diretores de eventos, Dr.Roberto Antonio Aniche e Antonio Carlos Fernandes, e pelas professoras Alice Costa do Mackenzie Consolação e Márcia Valéria Teixeira Zucoloto do Mackenzie Tamboré. Boa parte deste trabalho teve a participação do Correio através do diretor da Divisão Filatélica, Sr.Vernieri Malheiros da Rocha Albuquerque, que liberou para as crianças kits filatélicos do Correio além de sua participação em diversos eventos.

Iniciamos nosso trabalho simultaneamente nas Unidades Tamboré e Consolação. A primeira “aula” foi uma apresentação preparada sobre Colecionismo em Geral, pelo Dr.Roberto Aniche, mostrando o colecionismo desde a pré-história, quando o hominídeo “colecionava” objetos de que pudesse se utilizar em sua vida diária, passando aos nossos tempos, com o colecionismo de cartões postais, cédulas e moedas, latas, cartões telefônicos terminando por fim numa detalhada exposição sobre filatelia.

A partir daí as aulas nas duas unidades progrediram muito. A cada aula era exposta uma apresentação de 20 slides em data-show, com no máximo 15 minutos de duração. Este tempo curto, somente com informações relevantes prende a atenção do estudante. Em seguida iniciávamos a aula prática, sempre com o manuseio do selo e relacionada à apresentação. Praticávamos uma oficina de filatelia!

  • A Primeira Lição de Casa

Na primeira aula entregamos uma folha em branco com um selo comemorativo do Brasil para cada criança, para que fosse feita e entregue na próxima aula, uma redação sobre a mensagem do selo. Tivemos uma grata surpresa: a maioria das crianças entregou a tarefa, mostrando um trabalho de pesquisa maravilhoso!

  • Oficinas Filatélicas na “Festa da Roça” do Mackenzie Tamboré e “Festa da Família” do Mackenzie Consolação

No dia 30 de maio de 2015 a SPP conseguiu participar destes dois magníficos eventos. No Mackenzie Consolação a oficina mostrou aos alunos como montar um “Poster Filatélico”, peça produzida pelo Presidente do Mackenzie Dr.Mauricio Melo Menezes. Trata-se de uma obra de arte feita em papel formato A-3 homenageando alguma personalidade, criando uma linha do tempo feita por selos comemorativos.

Na Festa da Roça, no Mackenzie Tamboré, a SPP e os Correios ficaram num stand, com mostra de coleções, venda de selos pelo Correio e oficinas filatélicas concorridas. Todas as crianças que participaram ganharam o kit filatélico do Correio, além de selos e outros materiais.

  • As Exposições de Selos

Conseguimos com a participação das professoras com que as crianças montassem uma pequena coleção de selos para participação em diversas exposições: VII EXPO-SPP 2015, VIII EXPO-SPP 2016, IX EXPO-SPP 2017; em Americana 2017, Santos e na Brapex 2015.

As coleções tinham de uma a quatro folhas e foram motivo de orgulho para nós da SPP, para as professoras e pais dos alunos, e para o Mackenzie. As coleções eram temáticas, bastante simples ditadas pela preferência do aluno. Nesta fase de aprendizado as regras da Febraf ou da FIP não valem: vale o entusiasmo com que as crianças viram suas coleções serem expostas, vale a alegria dos pais verem seus filhos receberem um Certificado de Participação e uma Medalha, que serão guardados com muito carinho.

Estas exposições tem uma dupla finalidade: incentivar os jovens, independente da idade, a sentirem a paixão pela filatelia. Todos nós, velhos colecionadores, iniciamos quando crianças, orientados por um tio ou por um avô colecionador. A outra finalidade é que elas vejam todas as coleções (e sempre o fizeram com muita curiosidade), para aprender mais sobre filatelia, montagem, estética, selos, envelopes.

  • Considerações Finais

Nós, todos os atores desta maravilhosa empreitada estamos felizes. Podem inventar e-mail, telefone celular, skype, whatsapp e muitas outras coisas no futuro. A filatelia existe para desvendar o passado, ensinar todos os caminhos que a humanidade trilhou até nossos dias. A filatelia existe forte e tem a capacidade de melhorar, a partir do ensinamento de cada selo emitido, cada cidadão do mundo. A filatelia é e sempre será um exemplo de união entre as pessoas que querem aprender a cada dia um pouco mais.

Cada selo é um livro aberto com infinitas páginas de sabedoria.

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Aula Inaugural
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Brincadeira de Leilão de Selos na SPP
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Oficina Filatélica na Festa da Roça, no Mackenzie Tamboré
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Desenhos de Selos no Mackenzie Consolação

Diplomas Expo-SPP e Americana 2017 de alunos participantes

Entrega de Diplomas no Mackenzie Consolação e Tamboré

Medalhas da Expo-SPP e Americana 2017

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Visita dos Pais e Alunos na SPP em Novembro de 2017
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Visita dos alunos e professores no Correio Central no Anhangabaú, SP

 

A Aclamação de Amador Bueno

Artigo publicado no Boletim da SPP nº 223 de agosto de 2015

3 - FIG 2 AMADOR BUENO
Fig. 1 – Amador Bueno
“Retrato supositício” pelo artista Belmonte, publicado com o texto na obra do IHGSP

Amador Bueno de Ribeira, personagem da História do Brasil pouco (ou nada) estudado na História do Brasil, nasceu em 1584 e faleceu em 1649 (anos aproximados). A história registra que foi aclamado rei em 1641 pela população pró-castelhana como reação ao fim da união dinástica entre Portugal e Espanha. Amador Bueno prontamente recusou a aclamação dando vivas ao rei D. João IV de Portugal. Foi um ato impulsionado pela mesma revolta, de 1641, que se conheceu popularmente como Botada dos Padres-Fora, (por dirigir-se contra os jesuítas). O mesmo espírito de rebelião se respirava nos dois movimentos ou impulsos populares.

Seu pai era espanhol nascido em Sevilha, chamado Bartolomeu Bueno e viera ao Brasil em 1550, morrendo em São Paulo em cerca de 1620, tendo sido vereador em 1616.

Amador Bueno foi capitão-mor e ouvidor da capitania de São Vicente em 1627. Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos. Contrariando o golpe de estado de 1º de Dezembro de 1640 no Reino de Portugal, os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes.

  • A efígie de Amador Bueno foi desenhada, a pedido do Instituto Histórico e Geográfico
    2 - Fig 1 Belmonte
    Fig. 2 Belmonte

    de São Paulo ao cartunista Benedito Bastos Barreto (1896-1947) que assinava como Belmonte. O cartunista é o criador do Juca Pato e foi um dos maiores ilustradores de chargas contra a Segunda Guerra Mundial (Fig.2).

No entanto, Amador Bueno recusou a honra e, com a espada desembainhada deu vivas ao rei de Portugal, assumindo-se como seu leal vassalo, depois de sessenta anos de União Ibérica, aliando-se à restauração da monarquia portuguesa. Ameaçado de desacato, Amador Bueno, tinha-se refugiado no mosteiro beneditino pedindo a intervenção do abade e seus monges.

“Desceram à praça fronteira o prelado e sua comunidade, procurado convencer os manifestantes que deviam abandonar o intento que os congregara. (….) Arrependidos do seu desacordo, resolveram os aclamadores aderir ao movimento restaurador do 1º de Dezembro de 1640. E assim foi D. João IV solenemente reconhecido soberano dos paulistas a 3 de abril de 1641, num gesto esplêndido de solidariedade lusa, do qual a unidade do Brasil imenso viria valer-se pelo alargamento extraordinário de sua área.” ( Afonso Taunay em “Ensaios Paulistas”) (Fig.3)

1 - Fig 4 Bilhete Postal
Fig. 3 – Máximo Postal da Aclamação de Amador Bueno com carimbo de João Pessoa datado de 31 de outubro de 1941

Por esse ato, Amador Bueno recebeu uma carta de el-rei em que lhe agradecia a lealdade. Quase duzentos anos depois, Dom Pedro I fez questão de ressaltar que foi aclamado Imperador pela primeira vez na terra do “fidelíssimo e nunca assaz louvado Amador Bueno de Ribeira”. Amador era homem riquíssimo e de muito bom senso, que gozou do maior prestígio. Casou com Bernarda Luís e tiveram numerosa descendência, entre elas um filho, bandeirante, também chamado Bartolomeu Bueno como seu avô e seu tio e um filho chamado, para distinguir do pai, Amador Bueno, o Moço, também bandeirante.

Amador Bueno morreu em data incerta entre 1646 e 1650. Acredita-se que tenha sido sepultado na parte desaparecida do Convento de São Francisco. Amador Bueno foi o bisavô de outra personagem importante da história de São Paulo, Amador Bueno da Veiga, que comandou os paulistas na Guerra dos Emboabas. Foi também tio e tutor de Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro “Anhangüera”.

Segundo o geneticista Sérgio Pena, contam-se hoje aos milhares os descendentes de Amador Bueno. Dentre eles estão vultos como Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Roberto Marinho , Júlio de Mesquita Filho, Walter Moreira Sales, Vicente de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade e Bárbara Heliodora.

7 - Fig. 3 Quadra
Fig. 4 – Quadra do selo C-169 sem picote

Amador Bueno foi homenageado com o selo RHM C-169 em 20 de outubro de 1941 (Fig. 4) por ocasião do Tricentenário da Aclamação. Três séculos depois, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo publicou, em 1941, uma “plaquette”, em mil exemplares, dedicada “A Amador Bueno no Tricentenário de Sua Aclamação como Rei de São Paulo – 1641-1941”. Injustamente Amador Bueno nunca foi homenageado com nenhum carimbo comemorativo. O verso do cartão da figura 1 foi circulado com um carimbo particular por ocasião do tricentenário da Aclamação de Amador Bueno (Fig. 6), contendo um erro: marca apenas a palavra “centenário” ao invés do tricentenário.

5 - Fig 5 Bilhete Postal verso
Fig. 5 – Verso do cartão da figura 1, com carimbo particular erroneamente feito com a palavra “centenário” ao invés de “tricentenário” de Amador Bueno
6 - Fig 6 Carta
Fig. 6 – Carta circulada em 17 de outubro de 1941 de São Paulo para Bahia, com manuscrito na parte superior “pelo Correio Aéreo Militar”. Teria sido mesmo?

Bibliografia:
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0355d.htm
http://www.wikipedia.org.br
http://www.oselo.com.br
Catálogo RHM

Os Selos Locais da Ilha Herm

Publicado no Boletim Filacap nº 190 ano 43 de fevereiro de 2017.

Herm é a uma das Ilhas do Canal, um grupo de ilhas situadas no canal da Mancha, ao largo da costa francesa no Golfo de Saint-Malo,  a oeste da península do Cotentin. (figs 1 e 2).

Herm foi ocupada desde tempos pré-históricos: foram descobertos na ilha vestígios de tumbas funerárias que remontam ao Neolítico. Os primeiros registos de habitantes nesta ilha remontam contudo ao século VI, quando a ilha tornou-se um centro monástico. Existem duas explicações para o nome Herm: uma primeira teoria fala de que deriva do termo eremita (hermit, em inglês) a outra teoria defende que deriva do antigo norueguês Herm vem da palavra erm referindo-se a um braço, tal como é a forma da ilha fig.3.

4 - Fig 04 Ilha de Herm
Fig. 3 – Ilha de Herm

 

Contudo, os monges sofreram com os rigores do Atlântico. No ano 709 uma enorme tempestade fez desaparecer a faixa de terra que ligava a ilha com outra, a pequena ilha desabitada de Jethou.

O momento mais importante na história política de Herm foi em 933, quando as Ilhas do Canal foram anexadas ao Ducado da Normandia (Elas permanecem à Coroa Britânica desde a divisão da Normandia em 1204).

Depois da anexação, a ilha de Herm perdeu gradualmente a sua população monástica, e entre 1570 e 1737 foi usada como tereno para caçadas pelos governadores de Guernsey.

No século 20, a indústria chegou à ilha, com o estabelecimento de pedreiras de granito para ser utilizadas nas fortificações das outras ilhas. A ilha foi arrendada pela Coroa e geralmente não existiam visitantes. Quando Príncipe Blücher foi o governador antes da Primeira Guerra Mundial, foi introduzida uma colonia de cangurus de pequeno porte que não sobreviveram.

Como aconteceu com as restantes Ilhas do Canal, Herm foi ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, que deixaram poucos vestígios da sua presença.

Depois do final da guerra, Guernesey decidiu comprar a ilha à Coroa de forma que os habitantes de Guernsey pudessem desfrutar da ilha de Herm. Guernsey arrendou a ilha a um governante que tem a incumbência de beneficiar os seus visitantes. O mais importante arrendatário foi Peter Wood, que supervisionou a ilha de 1949 a 1998.

POLÍTICA E DEMOGRAFIA

Herm é uma dependência de Guernsey. Nesta ilha estão proibidos de circular os automóveis tal como na ilha vizinha de Sark. Contudo, a ilha de Herm permite que os seus habitantes possam usar bicicletas e tratores.

O turismo é a principal atividade econômica da ilha senão a única (Fig 4).

3 - Fig 03 White House Hotel
Fig 04 – White House Hotel

A população fixa da ilha é de cerca de 60 habitantes, sendo que no período de turismo da ilha (verão do hemisfério norte) ela recebe cerca de mais 90 temporários para trabalharem no turismo. A ilha tem um hotel, um pub, três lojas de presentes, dois cafés de praia, dois parques de campismo e vinte casas de férias.

AS ORIGENS DOS SELOS DE HERM

 A história postal de Herm começa em 1º de maio de 1925 quando os Correios Britânicos estabeleceram um sub-escritório na ilha. Aberto apenas meia hora por dia, provou ser antieconômico encerrando suas atividades em 30 outubro 1938.

5 - Fig 5 Selo Churchill
Fig. 5 Churchill

Em 1948, o então arrendatário de Herm, A.G. Jefferies, procurava explorar o potencial turístico da ilha e pediu que o gabinete fosse reaberto, o que lhe foi negado pelo diretor geral dos correios. Jefferies decidiu estabelecer o seu próprio serviço postal local de Herm para St. Peter Port, em Guernsey, onde seria entregue à estação de correios para posterior envio para o resto do mundo Os primeiros selos foram produzidos para a venda em 26 maio de 1949, com toda a carta devendo ser porteada também com selos britânicos (figs. 5 e 6).

6 - Fig 6 Serie
Fig. 6

Os selos Herm foram colocados na parte de trás dos envelopes ou no canto superior esquerdo dos cartões postais. Um único selo foi emitido também para pagar mensagens urgentes carregadas por pombos-correio. Herm somente teve linha telefônica para Guernsey em 1949.

7 - Fig 7 Frente de FDC
Fig. 7 – FDC Europa, 18 de setembro de 1961

Os selos de Herm foram produzidos até 1 de outubro de 1969, quando Guernsey assumiu o controle de seus próprios serviços postais, parte dos serviços britânicos. Nesta data foram proibidos produzir ou selar cartas com os selos de Herm. NemIlha Herm nem Guersney constam como afiliados à União Postal Universal em seu site.

Um novo posto de correios foi novamente estabelecido em Herm depois que Guernsey ganhou sua própria administração postal em 1969 e isso significou o fim para os selos locais de Herm. O serviço local produziu cerca de 27 números de selos, compostos por 112 selos individuais. Em quatro ocasiões, entre 1953 e 1957, a escassez de carimbo dos valores de ½d significava que os selos 1d foram divididos para uso em cartões postais e estes, usados corretamente em cartões, são peças filatélicas maravilhosas e difíceis de serem econtradas (fig 8).

9 - Fig 8 Envelope com selo bissetado
Fig. 9 – Cartão Postal circulado em 12 de setembro de 1954 com selo da Ilha Herm bissetado mais selo de porte da Inglaterra

Bibliografia
http://herm.com/
http://www.wikipedia.org/wiki/Herm
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1061890/No-place-like-Herm-Couple-buy-tiny-Channel-island-fell-love.html
https://www.seasonworkers.com/skijobs/resorts/channel%20islands/herm-island-296.aspx
http://herm.com/gift-shops/herm-stamps/default.aspx
http://gbstamp.co.uk/article/the-fascinating-local-stamps-of-herm-in-the-channel-islands-395.html
http://www.silverdalen.se/stamps/che98/he50_59/her50_59.htm
http://www.upu.int/en/the-upu/member-countries.html

Os Selos Locais de Lundy

Publicado no Boletim Filacap nº 189 ano 42 de outubro de 2016.

Fig 1 Ilha de Lundy
Fig. 1 Mapa de Lundy

Lundy é a maior ilha do canal de Bristol distando 19 km da costa de Devon, na Inglaterra, em direção ao País de Gales. O comprimento da ilha é de aproximadamente 5 km (fig.1).

Em 2007 a população residente era de 28 pessoas, incluindo voluntários. Entre as 28 pessoas, existia um guarda, um encarregado da ilha e um granjeiro, além de empregados de um bar. A maioria da população vive ao sul da ilha. Os visitantes são geralmente excursionistas de um dia, mesmo tendo a ilha 21 propriedades de férias e um acampamento para visitantes, localizados principalmente ao sul.

O número máximo de habitantes ocorreu em 1881, quando a ilha teve cerca de 180 habitantes. Em 1911 a população era de 43 homens e 26 mulheres, incluindo-se aí a tripulação do farol e o agente do correio, habitando ao todo 12 casas.

Numa votação em 2005 feita pelos leitores da Radio Times, Lundy foi nomeada como a décima maravilha da Grã-Bretanha. Toda a ilha foi designada como Sítio de Especial Interesse Científico e foi a primeira Reserva Natural Marinha da Inglaterra, devido a sua flora e fauna únicas (fig.2). É comandada pela Landmark Trust em nome da National Trust. A ilha tem 345 hectares de área.

Fig 2 Lundy praia
Fig. 2 – Praia em Lundy
  • RADIO TIMES
  • Revista britânica semanal de listas de programação, fundada e publicada entre 1923 e 2011 pela BBC Magazines. Depois deste ano, a sua publicação foi passada para a Immediate Media Company.
  • LANDMARK TRUST
  • Há mais de 50 anos o filantropo John Smith e sua esposa fundaram a Landmark Trust, cujo o objetivo era tentar evitar a perda de edifício históricos.
  • John Smith já era uma figura de destaque no mundo da conservação: um entusiasta comprometido em edifícios e outras estruturas históricas. Sua experiência o levou a concluir que deveria investir em edifícios e construções fora de moda para qualquer outra pessoa. E assim, em 1965, o Landmark Trust veio a criar, em conjunto os Smiths, a coleção Landmark, que conta hoje com quase 200 edifícios em diversas partes do mundo.

O FINAL DO CORREIO INGLÊS EM LUNDY

Fig 3 Lundy_post
Fig.3 Antiga caixa de correio de Lundy

Devido a um declínio na população e falta de interesse em manter o transporte de cartas da ilha, o correio inglês encerrou seu trabalho no final de 1927 (fig.3). Nos anos seguintes, “King” Harman criou um sistema próprio de correio da ilha para o continente e vice-versa. Em 1 de novembro de 1929 ele decidiu compensar a despesa através da emissão de uma série de selos postais privados, com um valor expresso em “Puffins”. A impressão destes selos continua ainda hoje (fig.4 e 5). Eles são colados no canto inferior esquerdo do envelope, para que os centros de triagem do continente possa processá-los: seu custo inclui os encargos normais de correio para a frente de entrega, ou seja, a unidade de correio inglês mais próxima no continente (fig.6).

 

Fig 6
Fig. 6 – Cartão postal circulado de Lundy para Birminghan em 1953 com postagem da ilha para o continente e postagem para o destino com selos ingleses

Martin Coles Harman (nascido em 1885 em Steyning, Sussex) era um homem de negócios

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Fig. 7 Moeda da ilha com a efígie de Martin Coles Harman (“King Harman”)

inglês que comprou a ilha de Lundy em 1925 e auto-proclamou-se Rei de Lundy. Mais tarde ele emitiu uma moeda independente em Lundy denominada Puffin (½ Puffin e de 1 Puffin) (fig.7), que eram nominalmente equivalentes ao Halfpenny e Penny britânicos, resultando em sua perseguição pelas autoridades do Reino Unido pela emissão de moedas ilegais sob a Lei de cunhagem de 1870. A Câmara dos Lordes considerou-o culpado em 1931, e ele foi multado em £ 5 mais despesas. As moedas foram retiradas de circulação e tornaram-se objetos de coleção.

 

Este tipo de selos é conhecido na filatelia como uma “etiqueta de transporte local”. Os valores foram crescendo com a inflação sendo criado inclusive selos para correio aéreo.

Os selos da Ilha de Lundy servem para cobrir a postagem de cartas e cartões da ilha para caixa postal inglesa mais próxima no continente não só para os moradores como também para os muitos milhares de visitantes que anualmente desembarcam na ilha.

Os selos de Lundy tornaram-se parte da coleção dos muitos colecionadores britânicos de selos locais e de colecionadores do mundo todo. Lundy e seus selos apareceram em 1970 no Rosen, Catálogo de Selos Locais Britânicos, e no Phillips Locals Britanic, moderno Catálogo em CD publicado desde 2003.

Fig 8
Fig. 8 Labbe´s Specialized Guide to Lundy Island, 2016 edition

Encontramos na internet um Catalogo de Selos de Lundy feito por Anders Backman indicando que o primeiro selo foi emitido em 1929. A última anotação do site indica o ano de 1997 com um total de 306 selos editados.

Outro catálogo é editado por Patrick C.Labbe, membro da American Philatelic Society, da United States Possessions Philatelic Society e da Local Post Collectors Society, o Lundy Island Stamps: Labbe´s Specialized Guide to Lundy Island 2016, contando 369 selos emitidos até 2015, à venda em CD-ROM (fig 8).

 

Bibliografia:
www.wikipedia.org
http://www.lundy.org.uk/download/resources/Lundy1911.pdf
http://www.silverdalen.se/stamps/lundy/lundy_cat.htm
http://lundy2007.tripod.com/
http://www.upu.int
http://www.stampcommunity.org/topic.asp?TOPIC_ID=11056
http://www.landmarktrust.org.uk/about-us/history/
http://genome.ch.bbc.co.uk/
http://www.ebay.com

Os Selos de Taxa da Ferrovia de Hedjaz, Império Turco-Otomano

Publicado no Boletim Filacap – Edição Especial ano 39 de junho de 2013

A HISTÓRIA

A Estrada de Ferro de Hedjaz (ou Hejaz) foi sugerida em 1864, e construída no período entre 011900 e 1908, com a finalidade de facilitar as peregrinações aos locais sagrados muçulmanos, mas estrategicamente para fortalecer o domínio otomano em províncias distantes, bem como uma via economicamente forte para as finanças do Império.

A obra foi autorizada por Sua Majestade Imperial, o Sultão do Império Otomano Abdulhamid II, 34º sultão do Império, o último que o governou com poder absoluto, também conhecido como Ulu Hakan , o Grande Khan e também como Kizil Sultan, o Sultão Vermelho (fig. 1). Foi deposto em 1909 na Jovem Revolução Turca.

O trajeto principal, de Damasco a Medina (a ferrovia nunca chegou a Meca) tinha 1.320 quilômetros, passando pela Transjordânia e noroeste da Arábia, para a região de Hedjaz, onde se situam Medina e Meca.

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A ferrovia substituiu as antigas rotas de caravanas (cujas viagens de ida e volta a Damasco levavam quatro meses), criando um novo inimigo ao Império. Foram necessários 5.000 soldados otomanos para construir, manter e guardar a ferrovia, sob a orientação do engenheiro alemão Heinrich Augusto Meissner. A construção encontrou inúmeras dificuldades: tribos hostis e imprevisíveis, terreno difícil, rochoso ou arenoso, calor extremo, pó e tempestades de areia, e às vezes inundações repentinas por tempestades torrenciais que destruíam as linhas e pontes. 

Ao mesmo tempo foi iniciada a construção da Estrada de Ferro Berlim-Bagdá, e as duas estradas se interrelacionariam. A outra intenção da construção da ferrovia seria a de proteger Hejaz e outras províncias árabes da invasão britânica.

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Fig. 3

Concluída em 1908, transportava em 1914 cerca de 300.000 passageiros por ano (fig. 3), mas não somente peregrinos. A estação foi inaugurada em 1908, aniversário da ascensão do Sultão Abdulhamid II ao poder, mas a principal estação, a de Hedjaz (fig. 4) em Damasco iniciou suas operações em 1913, sendo o ponto inicial para Medina. Na Primeira Grande Guerra a Turquia transportava tropas e mantimentos, havendo inúmeras tentativas para desmantelar a linha para impedir a ofensiva do exército turco. O ramal entre a Jordânia (Ma´an) e Medina sofreu danos irreparáveis por sabotagem, principalmente pela estratégia militar inglesa por T.E.Lawrence (fig. 5) , que junto com as forças árabes descarrilhou comboios e locomotivas que transportavam tropas turcas (fig. 6).

No final da primeira guerra, as linhas em funcionamento foram controladas pelos respectivos governos da Síria, Palestina e Transjordânia, servindo principalmente como atração turística.

O FINANCIAMENTO

Foi aberta uma subscrição no mundo Islâmico para a constituição de fundos para a sua construção. A obra foi um grande desafio econômico e de engenharia, com custo estimado em 4 milhões de liras, sendo aberta uma subscrição para todas as nações e autoridades islâmicas. Donativos da Índia e do Egito causaram protestos do governo britânico, mas também houve subscrições do Marrocos, Rússia, China, Singapura, Holanda, Irã, África do Sul, Américas. Foram distribuídas moedas de bronze, prata e ouro a autoridades que fizeram suas contribuições.

IMPOSTOS POR SELOS FISCAIS

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Fig 7

Após as doações, os impostos cobrados por selos fiscais chegaram a 22% do orçamento. Foram emitidos inúmeros tipos de selos fiscais, utilizados em documentos (fig. 7), passaportes, recibos e em correspondência (fig. 8 a 12), apesar de não temos encontrado nenhum envelope com estes selos, mas somente fragmentos com carimbos obliteradores postais.

A grande maioria dos selos tem aposto sobrecarga vermelha ou preta e até manuscrita, sempre com referência ao Sultão (tughra, marca do Sultão) da época ou alusivas à construção da ferrovia e mesmo com alterações de valores de taxas (ocorrência muito comum). Também foram usados em 1917 na cidade de Adana e distritos como taxa de cigarros de papel.

 

USOS DIVERSOS DOS SELOS DA FERROVIA DE HEDJAZ

Os selos foram utilizados pelos governos do Império Otomano, e após a sua queda pelo Governo Turco, além de outros países estrangeiros em ocupação no território otomano:

  • selos fiscais da Ferrovia de Hedjaz usados normalmente com sobrecarga
  • selos fiscais otomanos com sobrecarga do Grande Assembleia Nacional Turca
  • emissão provisória na Guerra da Independência Turca
  • ocupações estrangeiras

13Das ocupações destacamos a Ocupação Italiana nas ilhas do Egeu e como títulos da dívida pública otomana (sobrecarga “Debito Publlico Ottomana”); ocupação grega na Anatólia, Ilha de Rodes e Europa Otomana; ocupação britânica na Mesopotâmia (Iraque), ocupação francesa na Síria e Líbano (fig. 13).

FINALMENTE

Selos de sobretaxa tem sido utilizados em correspondência em diversos países, quer como taxas de guerra (war tax), para benfeitorias (Brasil, taxa pró-aeroportos), saúde (Brasil, série Hansen) e para outras finalidades.

O estudo da história da Ferrovia de Hedjaz é muito interessante e cheio de desfechos, mas o grande desafio é o estudo filatélico, quando selos fiscais são utilizados para donativos e subvenções, verdadeiro desafio para o filatelista, quer pela pouca literatura disponível, quer pela dificuldade das línguas faladas no oriente. Há muito que se procurar, investigar, estudar e principalmente corrigir os erros que certamente virão nesta coleção, uma história cheia de segredos de uma ferrovia que já completou 100 anos. (fig. 14)

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Bibliografia:

Ottoman Turkish Empire, Revenue Stamps of the Hejaz Railway, issued between 1904 and 1918, Steve Jacques, 2012
Wikipedia, diversas páginas
Imagens: internet, ebay, delcampe

Detalhes Importantes nos Selos da Turquia

Publicado no Boletim Filacap nº 168 ano 36 de dezembro de 2010

Os caracteres árabes são uma das formas mais difíceis de se interpretar em selos do oriente médio, principalmente se estivermos estudando o período em que não haviam caracteres latinos impressos para fácil identificação da origem e data de sua emissão.

Um detalhe interessante nos selos da Turquia é a “tougra”, ou assinatura do sultanato. Trata-se de um estilo de caligrafia impossível de ser imitado, na época utilizado por pessoas importantes. Neste método, as primeiras letras da assinatura são particularmente maiores do que as outras, formando uma base, às vezes projetando as últimas letras do nome.

01Este método caligráfico muitas vezes “desenha” formas humanas, de animais ou plantas e coloca em seu interior uma assinatura ou uma mensagem. (fig.1)

O primeiro selo turco, de 1863 (Yvert 2, Scott 1) apresenta uma “tougra” simples utilizada apenas nesta série. Este é o símbolo do Sultão Mahmoud Khan, ou Mahmud II (1808-1839) que trocou as antigas instituições do Império Otomano por modelos importados do Ocidente e foi desenhado (caligrafado) em 1808 por Moustafá Raquim. (Fig. 2 e 3)

Em 1901, na série de selos para correspondência para o exterior, surge uma outra tougra” com o acréscimo de outra assinatura à sua direita (Fig 4). Esta assinatura à direita é do grande Sultão e Califa Abdülhamid, o El-Ghazi, o conquistador (Fig. 5), governando até 1909 e morto em 1918. Seu sucessor, Mehmet V (ou Mehmed V, ou Mohammed V, Fig 6) retira sua assinatura, voltando ao símbolo do califado e governando até 1918, sendo sucedido por Mehmet VI.

Assim em 1920 a série Yvert 617 a 625 utiliza os selos de 1913 e 1914 (Yvert 179-191 Fig.7) retorna com a utilização da primeira, aquela dos selos de 1863. É muito fácil confundir estes selos já que os desenhos, cores e valores são os mesmos, ficando a diferença apenas na tal assinatura do sultão.

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08Em diversos selos reutilizados neste período é utilizada uma sobrecarga com a “tougra” sem a assinatura à direita de El-Ghazi. (Fig 8)

Interessante observar que o líder Mustafá Kemal, o Ataturk em 1917 (Fig. 9) cria um exército de resistência nacional, desembarcando na cidade de Samsum em 19 de maio de 1919. Cria um governo provisório, inclusive com aliados do próprio governo aumentando a oposição ao sultanato.

 

Em 1923 instala a República Turca, abolindo o regime de sultanato então vigente. Implanta o estado laico, permitindo apenas o poder espiritual com o califado. Em março de 1924 abole definitivamente o sultanato. O símbolo somente aparece novamente em uma série de “selos sobre selos” comemorando o centenário do selo turco (Yvert 1634-1637, Fig.10).

Este artigo nos mostra a dificuldade em se classificar os selos Turcos e a necessidade de compreendermos a história de qualquer país que nos aventuremos a colecionar. Além de encontrarmos esta diferença de assinatura dos selos citados, as “tougras” também mostram diferenças sutis na sua grafia. Pequenas modificações, imperceptíveis a olho nu revelam nestes selos muito de sua história indicando a assinatura do sultão daquela época. A dificuldade em se classificar os selos da Turquia torna esta coleção um desafio para o filatelista, dentro de uma parte fascinante da história da transição do Império Otomano para a moderna República da Turquia.

Bibliografia:
https://en.wikipedia.org/wiki/Tughra
http://en.wikipedia.org/wiki/Postage_stamps_and_postal_history_of_Turkey
Catálogo Yvert e Tellier, edição 1970 Tomo II Timbres d´Europe
Catálogo Scott, edição 2007

Evolução dos Selos da Turquia

Publicado no Boletim Filacap nº 166 ano 36 de maio de 2010

A Turquia é um país continental constituído por uma pequena parte europeia, a Trácia, e uma grande parte asiática, a Anatólia, sendo uma república democrática, secular e constitucional, com sistema político estabelecido em 1923 com o final do Império Otomano decretado com a derrota deste na Primeira Guerra Mundial.

O Império Otomano teve sua formação iniciada em 1299 quando o califa Osman I (em árabe: hutmãn, de onde vem o termo otomano) conquista parte da Anatólia e termina em 1922, quando perde na Primeira Guerra Mundial.

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Yvert nº 1

O primeiro selo da Turquia surge em 1859, ou seja, ainda na fase de Império Otomano, para liberar cartas a bordo dos navios da marinha, com seus valores escritos à mão, emitidos na cor carmim. Em 1868 surge novo modelo para as cartas entregues à Companhia de Barcos a Vapor “Asia Minor Steam Ship Company”, de Smirna, cidade na costa do Mar Egeu, que em 1415 tornou-se parte do Império Otomano.

O selo número 1 e suas variedades (Yvert 1, 1A e 1B) emitidos

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Variedades

com 9 anos de diferença e utilizados em navios diferentes contém caracteres ocidentais, no mínimo estranho para um Império cujo relacionamento com o mundo vinha de 500 anos de guerras e conquistas. A utilização foi feita em navios mercantes e eram selados no próprio navio ou entreposto comercial o que sugere que os selos eram emitidos e comercializados pelas empresas proprietárias dos navios. Estes selos aparecem no Catálogo Yvert, mas não são mencionados no Catálogo Scott.

Em 1863 surge um selo escrito em caracteres árabes, em diversos valores e cores, (Yvert 2 a 6), considerado por muitos filatelistas como realmente o primeiro selo do correio turco. Somente em 1876 surgem os primeiros selos com caracteres árabes e ocidentais (Yvert 44 a 49) com o nome do país (Emp.Otoman) e o valor e moeda. Existe, a partir deste momento uma miscelânea que ora coloca apenas o algarismo do valor e a moeda, ora o país e valor e moeda.

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Yvert nº 44A
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Yvert nº 2

Em primeiro de novembro de 1922, a Grande Assembléia Nacional Turca aboliu o sultanato, pondo fim a 631 anos de domínio otomano. Em 1923 o Tratado de Lausanne reconheceu a soberania da nova República da Turquia. Mustafá Kemal Pacha, que seria conhecido como Kemal Ataturk (“pai dos turcos”) tornou-se seu primeiro presidente, instituindo grandes reformas políticas.

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Yvert 687

O primeiro de centenas de selos com a efígie de Kemal Ataturk é o Yvert 687, de uma série de 8 valores, comemorando o acordo de paz com a Grécia. O selo mostra a imagem de Ataturk e a ponte de Sakaria. O Rio Sakaria é o terceiro maior rio da Turquia, com 824 km de extensão.

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Yvert 662

A reforma em 1923 tornou a República Turca um estado laico, tornando livre o culto religioso e adotando o alfabeto ocidental. Mesmo assim, os primeiros selos da república, de 1923 (Yvert 662 a 667, Parlamento Turco em Ankara), contém somente caracteres árabes.

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Yvert 670

Interessante notar que novamente o Catálogo Scott não faz menção a esta série, considerando como primeiro selo da República Turca o de número 668 do Yvert, uma série que vai de 668 a 686, emitida de 1923 a 1925. Os selos Yvert 662-667 constam no Catálogo Scott como sendo emitidos na Anatólia em 1922 (Turquia asiática).

Finalmente em 1929 surgem os primeiros selos obedecendo as reformas

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Yvert 746

(Yvert 744 a 749 em diante), que exibem somente caracteres ocidentais: “Turkiye Cummuriyeti”, “Posta”, “Postalari”, e já trazendo a indicação nos selos comemorativos do seu motivo de emissão.

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Yvert 749

As emissões a partir daí tornam-se regulares, com os selos servindo unicamente a seu propósito: portear cartas, com selos emitidos separadamente para o correio aéreo, o correio marítimo, selos beneficientes (Crescente Vermelho), selos de taxas, selos para jornais, blocos e folhinhas, etc., diferente do que acontecia anteriormente, quando os selos ganhavam diversas sobretaxas para mudarem de utilidade e serviço.

Bibliografia:
Catálogo Yvert e Tellier, edição 1970 Tomo II Timbres d´Europe
Catálogo Scott, edição 2007
Wikipedia.com – Têrmos: Turquia, Sakaria
Site http://www.sandafayre.com/Gallery/country_389_1.htm
História Postal da Turquia em: http://en.wikipedia.org/wiki/Postage_stamps_and_postal_history_of_Turkey

Semana de Arte Moderna de 1922 – Causas e Consequências

Coleção apresentada na SPP em maio de 2012, na Expo-SPP em agosto de 2012 e agosto de 2016, Americana em junho de 2014, Cruzeiro em julho de 2012.

A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade. Cada dia da semana trabalhou um aspecto cultural: pintura, escultura, poesia, literatura e música. O evento marcou o início do modernismo no Brasil e tornou-se referência cultural do século XX.

Arte-moderna-8
Cartaz do último dia do evento

A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda para o modernismo.Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros. (wikipedia.org)

O mundo vivia grandes transformações científicas, artísticas, filosóficas e religiosas tendo a Europa como berço para estas transformações. A Primeira Grande Guerra traz modificações sociais e econômicas no mundo, destruindo todo um romantismo europeu (e porque não mundial?) em todas as relações humanas. A Revolução Russa de 1917 destroi o mito de governos com poder divino sobre os cidadãos para criar o poder da força sobre toda a sociedade russa.

A Europa entra em ebulição artística como resposta a todas as transformações que sofre, e o Brasil, importador da cultura européia não fica atrás. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco que ficará em nossa história como o acontecimento que tirou o Brasil de um passado bairrista para um futuro a ser percorrido.

Presidentes do Brasil

Coleção apresentada na Sociedade Philatélica Paulista em 27 de agosto de 2011 e na Expo-SPP, SP em agosto de 2014.

PRESIDENTES DO BRASIL
A História da República no Brasil inicia-se em 15 de novembro de 1889 com a destituição da família Real pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Ao longo de 122 anos desta instituição podemos notar literalmente que a história se repete, ou tenta se repetir com novos personagens em novas épocas. As coincidências circunstanciais entre os acontecimentos dos diversos presidentes parecem que estão permitindo ao povo brasileiro corrigir grandes erros. No fundo assistimos nesta coleção, a 122 anos de disputa pelo poder a qualquer custo.

GOLPES DE ESTADO sempre foram uma tônica nas republiquetas latino-americanas, e no Brasil não poderia ser diferente. O Império, apesar do grande prestígio entre a população e outras nações passava por uma época difícil:

  • Dom Pedro só tinha filhas: a princesa Isabel era casada com o Conde D´Eu;
  • A Lei Áurea libertou os escravos mas não indenizou os fazendeiros;
  • A crise econômica que se estabelecera com a Guerra da Tríplice Aliança.

O Marechal Deodoro era monarquista convicto, mas foi traiçoeiramente enganado com boatos de que seria preso. Proclamou a República e voltou a dormir… No dia seguinte Dom Pedro II foi avisado que não era mais o imperador.

Em 1930 o candidato por São Paulo, Julio Prestes foi eleito presidente da República. No entanto oposicionistas lideraram uma revolução impedindo a posse do candidato após o assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio Vargas. Na revolução o presidente Washington Luiz é deposto e Getúlio Vargas assume com um golpe de estado.

Em 1937 surgem denúncias de tentativas de implantação do comunismo no Brasil, o Plano Cohen, sendo decretado estado de sítio no Brasil. Sem resistência Getúlio Vargas deu um golpe de estado e instaurou uma ditadura em 10 de novembro de 1937, através de um pronunciamento transmitido por rádio a todo o País. O Congresso foi fechado, nomearam-se interventores para os estados e Getúlio governou com plenos poderes.

Em 1961 Jânio Quadros renuncia ao governo e João Goulart é impedido de assumir a presidência. Militares impedem a sua posse sendo Ranieri Mazzilli conduzido interinamente o país. Implantado o regime parlamentarista, João Goulart consegue assumir a presidência.
Em 1964 João Goulart é deposto com a desculpa de que se estava a implantar o regime comunista no Brasil. Ranieri Mazzilli novamente toma posse até que os militares assumissem o controle da política no Brasil, implantando uma ditadura militarizada com todos os graves prejuízos à democracia.

A INFLUÊNCIA NORTE-AMERICANA no Brasil mudou o rumo de nossa história por diversas vezes. Na segunda guerra mundial Getúlio Vargas tentou manter o país afastado da guerra em posição de neutralidade. No entanto é forçado a assinar um Acordo de Defesa Mútua em 1941, cedendo bases aéreas e marítimas, incluindo Fernando de Noronha aos Estados Unidos. A história conta que o Brasil teria sido invadido pelos norte-americanos para que o nordeste servisse como base avançada para as tropas, aviões e navios da coalisão.

Em 1942 o Brasil rompe relações diplomáticas com o eixo, deslocando tropas de infantaria, materiais, medicamentos, viaturas e aviões de combate. No entanto toda a força brasileira ficou sob o controle norte americano. A batalha de Monte Castelo durou três meses. A campanha toda custou ao Brasil cerca de 2.500 mortes e 12.000 mutilados de guerra. Roosevelt afirma que “Vargas é um ditador a serviço da democracia”.

Em 1964 houve um movimento de reação, por parte de setores conservadores da sociedade brasileira – notadamente as Forças Armadas, o alto clero da Igreja Católica e organizações da sociedade civil, apoiados fortemente pela potência dominante da época, os Estados Unidos da América – ao temor de que o Brasil viria a se transformar em uma ditadura socialista similar à praticada em Cuba, após a falha do Plano
O temor ao comunismo influenciou a eclosão de uma série de golpes militares na América Latina, seguidos por ditaduras militares de orientação ideológica à direita, com o suposto aval de sucessivos governos dos Estados Unidos da América, que consideravam a América Latina como sua área de influência.
No Brasil golpe derrubando o pres. João Goulart estabeleceu um regime alinhado politicamente aos Estados Unidos da América e acarretou profundas modificações na organização política do país, bem como na vida econômica e social. Os Estados Unidos apoiavam, financiavam se identificavam com ditaduras de direita no auge da guerra fria com a Rússia.

AS GUERRAS INTERNAS no Brasil são um ponto vergonhoso na história de nossa nação, sempre apoiadas em “verdades criadas” para a manutenção do poder. Assim em 1897 o presidente Prudente de Morais rcebe informações de que o beato Antonio Conselheiro armara um exército que estava marchando para o Rio de Janeiro com a intenção de depor a república e reinstalar a monarquia. Após quatro sangrentas batalhas Prudente ordena a destruição total de Canudos. Cerca de 20.000 pessoas, incluindo mulheres, velhos e crianças são assassinados, os líderes são degolados e Canudos é incendiada.

Durante o governo Médici, na década de 70, militantes do PCdoB tentaram criar uma república socialista nos moldes de Cuba e China, começando pela bacia do Rio Araguaia. Para combater os 79 guerrilheiros o exército colocou 5.000 homens na região. Todos foram assassinados e tiveram seus corpos desaparecidos. Dentre os envolvidos, Osvaldo Orlando da Costa, guerrilheiro temido, foi morto com um tiro de calibre 12. Seu corpo foi içado em uma corda por helicóptero e solto do alto. Novamente içado pelo helicóptero foi exibido como troféu para a população local. A segunda guerrilha do Araguaia ocorreu no município de Piçarra, com o exército expulsando famílias à força, fuzilando homens e violentando mulheres.

A EVOLUÇÃO DOS SELOS NOS MANDATOS segue um padrão distinto:
Na República Velha são homenageados os presidentes em diversos selos, além de outros sequer aparecerem em peças filatélicas. Até a presidência de Getúlio Vargas os presidentes são homenageados com suas efígies estampadas em raros selos. Já na era Juscelino surgem selos e envelopes destacando não só o presidente, mas também as obra do seu governo, numa nítida propaganda política para aumentar o índice de popularidade.

A estratégia segue durante a ditadura militar, num tipo de propaganda para aumentar a aprovação do regime pelo povo. Assim grandes obras como Itaipu, Transamazônica, empresas como Embraer tem selos, máximos postais, carimbos sempre vistosos. O lema “Brasil, ame-o ou deixe-o” torna-se evidente em todas as ações do governo e nos Correios não seria diferente.

Após a saída dos militares nossos selos entram num certo marasmo em relação aos presidentes, exceção feita ao ex-presidente Lula, num selo excessivamente maquiado a “photoshop” posando como um verdadeiro santo pai-dos-pobres, verdadeira propaganda eleitoral.

Créditos
Os dados da história do Brasil podem ser coletados na internet. Sites importantes como o da Presidência da República, a Wikipedia (sempre com atenção para as páginas não confiáveis), o Google, bem como bons e velhos livros de história. Caso o texto seja considerado ofensivo a qualquer pessoa, informo que não é de nosso interesse nem nossa intenção fazê-lo. Humildemente solicitamos desculpas bem como retiraremos o parágrafo considerado ofensivo ou não merecedor de crédito. Internet, enciclopédias, livros e apostilas de história do Brasil nem sempre mostram a realidade.

Afinal de contas, 511 anos de história do Brasil, entre Colônia, Império e República nos mostraram que a verdade muda com o tempo. Mostra também que mentiras faladas repetidas vezes com convicção podem tornarem-se verdades absolutas. Infelizmente.